Essa é uma boa pergunta a se fazer no atual momento, tendo em vista os resultados do estudo “Miséria, Desigualdade e Políticas de Renda: o Real do Lula”, realizado pela FGV. Antes de continuar, favor reparar melhor no título pouco parcial do estudo que, ao associar a diminuição da desigualdade social durante o governo Lula com o plano Real de FHC, deixa claro que a instituição está longe de fazer numerologia chapa-branca para o atual presidente.
De acordo com os dados desse estudo, o número de miseráveis no Brasil (pessoas que vivem com menos de 125 reais por mês) diminuiu significativamente nos últimos anos. Só de 2005 para 2006, quase 6 milhões de pessoas saíram debaixo da linha da pobreza absoluta. "Ó, somos um país civilizado agora..." Não, não é isso que estou falando: em números absolutos, a redução foi de 42.033.587 pessoas em 2005 para 36.153.687 em 2006. É claro que isso é um grande avanço, um avanço fundamental, mas está muitíssimo longe de ser suficiente. A parcela mais invisível, destruída e brutalizada de nossa população está melhorando suas condições de vida em ritmo acelerado e recorde e isso é algo importante demais para passar despercebido, mesmo para a mídia que os delega à invisibilidade e à inexistência.
É impressionante que uma notícia desse peso (6 milhões de pessoas!) seja tratada como uma matéria menor, com menos linhas que um resumo de jogo entre Cruzeiro e Atlético Mineiro (jogaço). Politicamente, isso demonstra, sem rodeios, o desprezo desses grandes meios pelos assuntos que realmente afetam a massa do povo brasileiro, além do total compromentimento desses meios com a alienação do povo quanto à sua própria condição. Também é notável a vontade de manter o capital político de grupos da oposição ao se transferir o mérito principal para o governo anterior, do PSDB. Como pode ser que a redução da pobreza pode ser comparada ao plano Real? Qual é a natureza de cada uma dessas medidas políticas? Penso que uma é completamente diferente da outra em natureza, alcance e objetivo e a mera comparação dos dois já representa uma tentativa de distorcer a natureza de um para render dividendos ao outro.
Ah! E pesquisas de popularidade no Ibope são muito mais importantes que miseráveis, não?
Enric "Grama" Llagostera