28 de jun. de 2007

Nota da reitoria/UNICAMP

Nota publicada pela reitoria da UNICAMP após a reunião de hoje com o estudantes .

A Unicamp retoma nesta sexta-feira seus serviços de emissão de diplomas, de homologação de teses e dissertações e de fornecimento de documentos acadêmicos a alunos de graduação e de pós-graduação, após desocupação das dependências de sua DAC (Diretoria Acadêmica) por um grupo de alunos que havia promovido sua invasão no último dia 18.

A desocupação se deu por volta das 14 horas de hoje, por decisão dos próprios alunos, que pela manhã enviaram carta à Reitoria comunicando sua intenção de abandonar as dependências da DAC, órgão ligado à Pró-Reitoria de Graduação e que atende a mais de 17 mil estudantes de 57 cursos de graduação e a aproximadamente 16 mil estudantes de 127 programas de pós-graduação.

Logo em seguida à desocupação, uma comissão da Reitoria recebeu uma comissão integrada por alunos e professores. Nessa reunião, a Reitoria informou que o cronograma das obras da Moradia Estudantil - uma das reivindicações do movimento - segue sendo executado conforme acordo firmado em 30 de março último com os estudantes.

Ao mesmo tempo - tema que também foi tratado durante a reunião - prosseguem os trabalhos da comissão encarregada de apurar responsabilidades no episódio da invasão das dependências da DAC.

José Tadeu Jorge
Reitor

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ato em araraquara hoje.

Aconteceu hoje uma to unindo estudantes de USP, UNICAMP e UNESP em Araraquara. O local foi escolhido como forma de protestar contra a entrada da tropa de choque no campus a semana passada com o intuito de desocupar a diretoria até então ocupada por estudantes.

Segue panfleto do ato:

Contra as punições, pela abertura de negociações, contra a repressão e a tropa de choque/polícia nos Campi!

Contra os Decretos e a Reforma Universitária!


Após a ocupação da reitoria da USP e todo o levante nacional que presenciamos, o Movimento Estudantil, mais forte e atuante, reafirma seu papel de agente social em busca de uma educação de qualidade e para todos. Agora para podermos continuar construindo nossas lutas precisamos garantir que não haja perseguição política aos militantes, fato que tem sido realizado com o apoio do aparato policial, expediente não democrático para negociações.

A criminalização do Movimento Estudantil, um movimento que luta pelo ensino público e para que esse seja de qualidade e para o povo oprimido, é inaceitável! Se hoje ainda temos certa qualidade nas Universidades públicas, se temos a tão falada autonomia etc., é porque houve luta no passado. Houveram greves e ocupações por toda a história, os direitos trabalhistas (apesar de ainda poucos e seriamente ameaçados) foram conquistados a partir de mobilizações, nas quais a greve foi e continua sendo um importante mecanismo.

As ocupações deste início de ano apenas reforçam o caráter combativo do nosso movimento e as inúmeras assembléias, sempre quebrando recordes históricos na quantidade de participantes, reforçam a legitimidade dessa luta por mais democracia. As estruturas de poder dentro das universidades remontam à ditadura militar e fatos como o ocorrido em Araraquara exemplificam isso.

De maneira absurda um exagerado número de policiais treinados e equipados para situações extremas invadiu o campus da Unesp de Araraquara e prendeu estudantes que defendiam um direito do povo.

O movimento se propõe à negociação. Os estudantes se dispõem ao dialogo com aqueles que se apresentam com armas nas mãos e desqualificam a luta democrática. É fundamental que não nos intimidemos pelas ações das autoridades para que a nossa mobilização pela real autonomia se construa por meio da liberdade de expressão.

Hoje deve ser um dia em defesa da liberdade. Não da liberdade para consumir, mas da liberdade para defendermos a educação pública, que já é um direito!! A repressão policial e a intransigência em negociar, insistindo em punir participantes do Movimento Estudantil de maneiras incoerentes com a proposta de discussão que caracteriza o ambiente universitário, são inaceitáveis!


Os estudantes do estado todo estão unidos: aqui presentes unesp, unicamp e usp! todo apoio aos estudantes de araraquara!

Nas praças, nas ruas, quem disse que sumiu? Aqui está presente o Movimento Estudantil!

*Panfleto do Ato de Hoje 28 de junho, em Araraquara.


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Dac/unicamp sendo desocupada

O prédio da DAC (diretoria acadêmica) da unicamp foi desocupado pelos estudantes que lá estavam desde o dia 18/06. Haverá uma reunião de negociação com a presença do Reitor José Tadeu Jorge onde se negociarão as pautas e reivindicações da categoria, entre elas, o compromisso da Reitoria não punir os estudantes integrantes do movimento cujo foco é a luta contra os decretos de José Serra, decretos esses que ferem o caráter autônomo e público da universidade.

mais informações:
dac desocupada (eptv)
dac desocupada (g1)
mapa de ocupações no Brasil (g1)

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27 de jun. de 2007

Artigo do professor Plinio de Arruda Sampaio Jr. (IE/UNICAMP)

Publicado originalmente na revista eletrônica Correio da Cidadania.

Estudantes lutam em defesa da universidade pública

Escrito por Plínio de Arruda Sampaio Jr.
15-Jun-2007


A ocupação da reitoria da USP em repúdio ao ataque do governo de São Paulo à autonomia universitária e contra a progressiva degradação da qualidade do ensino surpreendeu pela ousadia e determinação dos estudantes que a lideraram. Lançando mão da "desobediência civil" como arma de pressão política, a ocupação conseguiu em poucos dias o que parecia impossível, depois de meses de tratativas e negociações infrutíferas.

O efeito arrebatador da ocupação sobre a consciência cívica da pacata comunidade universitária levou o governo estadual a recuar em suas intenções intervencionistas e forçou a reitora a acatar boa parte das demandas dos estudantes. Não se conseguiu tudo que se pretendia. A necessária unidade entre pesquisa e ensino, ameaçada pelas pressões das “empresas” interessadas em usufruir os polpudos recursos da Fapesp, permanece no limbo. Mesmo assim, as vitórias do movimento estudantil foram consideráveis.

Muito além das demandas específicas que detonaram o movimento, a ocupação da USP pôs a nu a crise da universidade brasileira. Tal como está, a universidade brasileira desagrada a todos.

Para os neoliberais, a universidade pública é um "luxo caro" que precisa justificar sua existência. Para tanto propõem subordiná-la às exigências do mercado. Por essa razão, ela vem sendo submetida a repetidas rodadas de ajustes fiscais e reformas liberalizantes.

Para quem imagina que a universidade pública é um patrimônio estratégico do povo brasileiro, sua capacidade de produzir conhecimento para o Brasil deve ser resgatada. Para tanto, ela precisa desesperadamente de recursos para sobreviver e, mais importante, carece de um projeto nacional que lhe dê sentido.

Ao colocar na agenda política nacional a defesa da Universidade Pública e a democratização de suas estruturas de poder, a ocupação da USP ganhou uma dimensão que extrapolou suas intenções iniciais, transformando-se numa espécie de bastião da luta em defesa da universidade pública, uma luta que tem uma história que se confunde com a própria afirmação do Brasil como sociedade nacional.

Para reprimir o despertar do movimento estudantil, as forças da ordem procuram caracterizar a ocupação da reitoria como um fenômeno artificial, dirigido por partidos de esquerda que manipulam a boa fé e a ingenuidade dos estudantes. É uma forma estúpida de ocultar a realidade.

Os estudantes que tomaram para si a responsabilidade que faltou a muitos são o produto de seu tempo: frustrados com o progressivo sucateamento das universidades públicas; indignados com o horizonte negativo que se lhes antepõe como futuro; profundamente descrentes na democracia do “mensalão” e das “navalhas”; desconfiados até mesmo em relação aos partidos de esquerda, que julgam conservadores e politiqueiros.

Goste-se ou não, o movimento é conduzido por estudantes generosos, dispostos ao sacrifício por uma causa coletiva, com muita coragem e pouca bagagem política, cansados da crise permanente da sociedade em que vivem e com muita pressa para resolver os graves problemas do Brasil. O forte eco de suas ações sobre o conjunto dos estudantes revela a grande efervescência e a enorme frustração latente nos universitários brasileiros.

Os estudantes que ocupam a reitoria da USP despertaram para a política. Logo aprenderão as duras lições da luta de classes numa sociedade intolerante com todo movimento que lança mão do conflito como forma legítima de conquista de direitos coletivos. Para os donos do poder, o conflito só é permitido, e com grande liberalidade, para a defesa do status quo.

É dever de todas as forças políticas comprometidas com a democracia evitar por todos os meios que os estudantes que se levantaram para defender a universidade pública sejam postos no pelourinho. Defender os estudantes que ocupam a reitoria da USP contra qualquer tipo de punição é defender a desobediência civil como forma legítima de luta quando todas as outras simplesmente não dão mais resultado.


Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP).

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Carta do Comando Estadual de Greve ao Govertno do Estado e aos reitores das universidades públicas paulistas

perdoem as poucas atualizações, continuem cobrando!!!

caetano.


Saudações grevistas,

Comissão de Comunicação do Comando Estadual de Greve

O Comitê Estadual de Greve das Universidades Estaduais Paulistas, representando 15 unidades em greve e cinco ocupações em vários Campi de diversas cidades paulistas, vem por meio desta comunicar:

1. Consideramos inconstitucional a criação da Secretaria de Ensino Superior, uma vez que uma Secretaria de Estado só pode ser criada através de lei aprovada pela Assembléia Legislativa, como prevê a Constituição Estadual, e não por decreto. Da mesma forma consideramosinconstitucional a separação entre ensino, pesquisa e extensão, realizada pelo decreto n. 51. 460, que separa as Universidades Estaduais da Fapesp e CEETEPS. Sendo assim, continuaremos na luta pelo que entendemos ser legítimo fazendo atos por todo o Estado.

2. Não aceitaremos qualquer punição a alunos, funcionários e professores das Universidades Estaduais por motivos políticos de greve e seus métodos – inclusive piquetes, barricadas e ocupações. Também não aceitaremos de forma alguma a presença e permanência da PolíciaMilitar nos Campi, sob pena de novas ocupações e reocupações. Entendemos que o direito de greve é legítimo e que a presença da polícia nas Universidades significa uma clara ameaça à autonomia universitária e retoma uma prática dos tempos da Ditadura Militar.


Campinas, 23 de junho de 2007.
COMITÊ ESTADUAL DE GREVE DAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PAULISTAS

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24 de jun. de 2007

para informe:


Apenas como informe o blog deve comemorar por esses dias (ou já comemorou) aniversário de 1 mês. Tivemos no auge uma média de 400 visitantes diário, hoje estamos com algo por volta de 200, se ficarmos estáveis por ai fico feliz (mas sempre querendo mais).

Já adianto também que segundo conversas informais com integrantes do blog este deve se manter mesmo sem greve, ocupação, etc. Seguirá como um blog de política e análise da cobertura política.

abraço a todos, recomendem, xinguem, pratiquem fist fiucking quando tiverem vontade e até mais, caetano.

ah, parabéns a todos nós!!!

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Reinaldo Azevedo comenta...

o jornalista/blogueiro comenta a matéria da Folha postada na mensagem anterior. Leia aqui.

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Na folha de hoje.

Invasão na USP revela um desejo paradoxal por ordem

Os sociólogos Francisco de Oliveira e Laymert Garcia dos Santos e o filósofo Paulo Eduardo Arantes discutem o significado da crise na USP

Movimento estudantil rompeu hiato de apatia, mas seu objetivo é conservador

UIRÁ MACHADO
COORDENADOR DE ARTIGOS E EVENTOS

"O período das grandes marchas acabou", afirma o filósofo Paulo Arantes. A invasão da reitoria da USP também. E agora?
Seria um equívoco procurar no passado -e na mística de 68- a chave de compreensão do movimento liderado pelos estudantes contra o governo do Estado e o comando da universidade. Parece haver algo de novo no ar, embora ainda não seja possível dizer exatamente o que nem afirmar qual o legado que deixará para a esquerda.
O que já se sabe é que nasce com o mérito de romper um hiato de apatia e desmobilização, mas marcado por um paradoxo: o movimento que se pretende revolucionário e desafia a ordem legal é o mesmo que luta por pautas conservadoras e para restabelecer a ordem.
A análise é de Paulo Arantes e dos sociólogos Francisco de Oliveira e Laymert Garcia dos Santos, três dos mais importantes intelectuais da esquerda brasileira, próximos dos estudantes e simpáticos ao movimento. A Folha os convidou na última terça-feira para debater o significado da crise na USP, quando o cenário para o fim da invasão já estava desenhado.
Naquele dia, Arantes e Oliveira -e mais alguns colegas- participaram de uma reunião com a reitora da USP, Suely Vilela, para discutir os rumos da crise na universidade. Ficaram ainda mais convencidos da irrelevância da política.
"A ocupação da reitoria da USP mostra de forma escancarada que a política tradicional não tem mais capacidade de processar os conflitos sociais", afirma Oliveira. "É essa incapacidade que eu venho chamando de irrelevância da política."

Adeus às marchas
"Simplesmente estamos nos dando conta de que política pode ser outra coisa. Um pontapé na porta rompeu uma rotina de decretos, de apatia. E fez com que um governo prepotente revogasse os decretos. Pode ser que o movimento não tenha um futuro. Daqui a dois dias [última quinta-feira] vão desocupar e não se sabe o que vai acontecer. Estamos vivendo um tempo inesperado, porque não entra nos parâmetros antigos. O período das grandes marchas acabou", diz Arantes.
O filósofo compara a situação atual com a de 2000, quando os alunos se associaram a outros setores em greve e conseguiram mobilizar 50 mil pessoas na avenida Paulista (15 mil, segundo a Polícia Militar).
Ele diz que o movimento de agora, "do ponto de vista política, é uma molécula", mas produziu "um deus-nos-acuda que não havia sido visto". A reação, diz Arantes, é desproporcional.
Se a política tradicional está em xeque, dizem eles, é preciso buscar outras formas de olhar para a crise na USP. E uma delas é justamente a reação da sociedade -mas, sobretudo, a da própria universidade.
Quando os estudantes estavam havia poucos dias na reitoria, professores da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), unidade tradicionalmente de esquerda, escreveram textos condenando a violência da ocupação. Outros professores organizaram uma passeata anti-invasão.
"São manifestações de extrema-direita que nem na ditadura nós tivemos", diz Arantes.
"O grau de apatia, letargia e neutralização da política chegou a um ponto que reivindicar o que os alunos estão reivindicando e apontar os limites das ações do governo já é uma coisa escandalosa", diz Laymert.
Aí apontam o que, para eles, é o grande mérito dos estudantes: se manifestar contra algo com o que não concordavam.
Essa linha de raciocínio os leva a considerar que a ordem, na verdade, é uma desordem aceita por todos. O primeiro ato de violência, dizem, não partiu dos estudantes, mas de José Serra, que decidiu governar por decreto e atacar a autonomia das universidades. O mesmo vale para o plano federal, em que, desde FHC, a prática é governar por medidas provisórias.
"A surpresa foi que ainda existe gás para reagir quando tudo vinha sendo engolido passivamente", diz Laymert.
No começo do ano, o governador José Serra (PSDB) editou uma série de decretos que, segundo parte da comunidade acadêmica, ameaçavam a autonomia universitária. No dia 31 de maio, publicou um inédito decreto declaratório e revogou quase todos os itens que estavam sob a mira dos alunos.

Paradoxo
A medida foi considerada um recuo de Serra e uma vitória dos estudantes. Mas essa conquista encerra um paradoxo.
"Eu já disse isso a eles [os alunos], e eles ficam meio aborrecidos: foi uma ação de subversão -que parece subversão, mas não existe subversão numa sociedade permissiva- para o retorno ao statu quo ante. Zapatistas, ex-maoístas, trotskistas, independentes se juntaram, ocuparam a reitoria para que o reitor tivesse o direito do pleno exercício da execução orçamentária e financeira de uma universidade, que é puro establishment. É uma subversão pela ordem", afirma Arantes, o mais próximo dos alunos.
"O famoso Estado democrático de Direito sendo violado nas suas regras elementares -que é o funcionamento de uma autarquia- provocou um ato considerado de subversão revolucionária para colocar as coisas no seu lugar, que é um lugar conservador", completa.
Para Arantes, as demais reivindicações vão na mesma linha. A pauta inclui, entre outras, medidas de inclusão social ("assistencialismo") e a Estatuinte ("dentro da normalidade de uma vida institucional").
"A pauta de reivindicações, a própria reitora o disse, é perfeitamente realizável. Um dos pontos é o serviço de ônibus da USP. Ora, o que isso quer dizer para uma universidade como a de São Paulo? Não vejo como isso possa estar dizendo que se trata de nova forma de política", diz Oliveira.

Contágio
Os três concordam quanto ao caráter algo conservador das reivindicações dos estudantes. Ao mesmo tempo, enxergam uma certa novidade no movimento: além da capacidade de quebrar o silêncio, apontam a forma de manifestação.
"No conteúdo, não há nenhuma alternativa política substantiva. Na forma, é uma ação política inédita, que tende a se multiplicar, como fórmula, independentemente do conteúdo. O contágio então vem da tecnologia política, do modo de fazer. O conteúdo está na forma", diz Arantes.
Se a novidade está na forma, é porque os tempos são outros. Os modos antigos de fazer política, insistem eles, não têm mais alcance nem sentido.

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arrtigo do professor Marco Aurelio Nogueira

Um artigo publicado no Estadão deste sábado por Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp, sobre a crise...


A universidade sempre foi um espaço de luta, debate e reflexão. Um lugar para se pensar o mundo, pesquisar, aprender e estudar, seja no sentido básico de acumular conhecimentos, produzir ciência e adquirir melhores estruturas reflexivas, seja no sentido de agir sobre a vida e revolucioná-la.

A articulação entre seus objetivos fundamentais - lutar por justiça e igualdade, fazer pesquisa, estudar - constitui a razão de ser da universidade, aquilo que a distingue como instituição. Quebrada a conexão, desfaz-se a magia.

O ideal de uma comunidade de professores e estudantes sempre figurou entre as grandes utopias universitárias. Uma universidade de qualidade, que desempenhe uma efetiva função pública, não é só uma instituição com bons docentes e boa estrutura física. Também existe como estado de espírito, cultura, disposição intelectual, procedimentos.

Mas o que é fácil de ser encontrado nas cartas de intenções e nos discursos de praxe nem sempre se traduz adequadamente em termos práticos. Não é porque se defende um ideal comunitário que uma comunidade passa a existir. Ela nunca está pronta; precisa ser construída e reconstruída dia após dia, num processo que não se encerra jamais. Além disto, nem toda comunidade é virtuosa. Há comunidades que se sustentam em mecanismos repressivos, verticalizados e unidimensionais, nas quais o consenso é imposto, em vez de nascer do entrechoque das opiniões e da livre movimentação das pessoas.

Ainda que estejam do mesmo lado e se devam afinar quanto às finalidades da universidade, docentes e estudantes nem sempre caminham juntos. Podem divergir em muitos pontos, até porque estão separados por abismos geracionais e também porque se relacionam de modo distinto com a instituição. Aquilo que é, para a maioria dos professores, causa profunda e permanente, para a imensa maioria dos estudantes é um meio de se projetar para outros ambientes e continuar a vida. Há muito combustível para que professores e alunos entrem em atrito.

O sucesso de uma “boa” comunidade repousa na capacidade de fazer com que os atritos sirvam para fortalecê-la, em vez de miná-la, coisa que só pode acontecer se os integrantes dispuserem de uma vida coletiva livre, aberta, dialógica. Sem isto as questões não são processadas democraticamente e as soluções deixam de refletir o interesse das maiorias.

A universidade democrática e de massas do século 21, especialmente nos países periféricos, tornou-se também um espaço de assistência e proteção, recursos com que se busca viabilizar o estudo dos menos privilegiados e dos que enfrentam maiores dificuldades para se manter ao longo dos cursos. Trata-se de uma generosa e necessária ampliação dos princípios universitários, sem o que a universidade se elitizaria de modo inadmissível. A assistência, porém, converteu-se rapidamente num fim em si mesmo. Passou a ser reivindicada por todos e convertida em “direito” de todos, não somente dos que dela efetivamente necessitam. Deste modo, tornou-se muitas vezes mais relevante que os próprios fins específicos da universidade. Chegou-se assim à versão atual, que enfatiza a concessão em cascata de benefícios e subsídios, aumentando o privilégio dos privilegiados.

O problema é que a universidade, hoje, não dispõe de consensos a respeito de como encaixar a “permanência estudantil” em seu dia-a-dia. Sabe que precisa lutar por isto, mas não sabe de que modo e com que idéias fazê-lo. A articulação entre pensamento e ação está falhando.

Não se luta mais por idéias, mas por “direitos”. O foco não é mais qualidade de ensino, bons professores e bons cursos, mas boas notas, diplomas, carreiras e prestígio. Na maioria das vezes se luta por coisas direcionadas para melhorar a posição relativa de certas pessoas, não o funcionamento institucional, muito menos a vida de todos, o ensino e a pesquisa.

Mas, ora, dirão, por que não lutar pelas duas coisas, idéias e direitos? Nada contra, seria mesmo o certo. Mas desde que não se jogue fora uma delas para dedicar energia total à outra. Na agenda acadêmica de hoje cabe tudo, sem qualquer hierarquia ou critério. A pauta está invertida, os fins sendo engolidos pelos meios.

A agitação estudantil atual, movida a “radicalismo” midiático sem alma, bem como os professores que a ela se nivelam ou nela pegam carona, agarra-se ao assistencialismo para disfarçar sua dramática falta de densidade e de representatividade. Segue um caminho quase suicida, no correr do qual vai destruindo precisamente aquilo - a universidade como espaço de idéias, a razão crítica - que poderia ser sua força e sua plataforma de lançamento para o futuro. Em vez de salvadora da universidade, atua como seu coveiro. Seu único oxigênio é a “desobediência”, não a “alternativa”. Não é, na verdade, um movimento, mas um espasmo caricato, sustentado por uma sensação de força e pela inércia das instituições. Na sua base, uma massa estudantil que verbaliza, sem falar, um mal-estar gritante. A “maioria silenciosa” de hoje não é passiva: é um grito de alerta, que denuncia a irrelevância das cúpulas estudantis e das rotinas institucionais - por que brigar para ter aulas se dá para estudar de outro modo? - e desnuda o desconforto de toda uma geração, perplexa diante de um mundo de excessos e carências abissais. Ela, no fundo, está sendo levada ao silêncio pelo autoritarismo agressivo daqueles que dizem falar em seu nome.

Esta agitação não tem legitimidade e não interage com os estudantes, e nisso, tragicamente, repousam as melhores esperanças de uma “normalização”. Mas a crise por que passam as universidades públicas brasileiras - e, dentro delas, especialmente as escolas de humanidades - não é uma ventania de primavera. Justamente por isso, precisa ser enfrentada de peito aberto, de modo que seus principais agentes possam ser desmascarados, combatidos e neutralizados.

Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp, é autor, entre outros, dos livros Em Defesa da Política (Senac, 2001) e Um Estado para a Sociedade Civil (Cortez, 2004) E-mail: m.a.nogueira@globo.com



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Carta da ADUNICAMP

Que prevaleça o Diálogo

Estudantes ocuparam parte das instalações da DAC, nesta 2ª feira, 18 de junho.

A ADUNICAMP, veementemente, repudia a intervenção policial nas questões que, como esta, contrapõem autoridades acadêmicas a estudantes.

Qual a razão da ocupação? É uma ruptura do diálogo?
Do ponto de vista da reitoria, e de muitos docentes, sim. Certamente estudantes, muitos, não pensam assim.
Acreditam que não se rompe o que não existe.
Ai é que se situa o impasse do qual resultou a ocupação.
O que para uns é um diálogo está longe de ser para outros.

De fato, historicamente, a relação professor-aluno tem um viés autoritário sob a óptica de quem, vendo-se “do lado mais fraco”, simbolicamente, decide “tomar de assalto o poder”.
É emblemático o caso de ocupação da reitoria da USP. Apesar de ter ocorrido quatro meses após a edição pelo governador Serra dos decretos que alteravam ameaçadoramente a vida nas universidades públicas paulistas, o fato político atingiu tal vulto que forçou a governo a um importante recuo.
O governador não debateu os decretos com a comunidade universitária e acabou curvando-se à pressão dela, mais precisamente de uma parcela dela, os estudantes.

A ADUNICAMP tem o mandato de sua assembléia de defender a não punição dos estudantes que ocupam a reitoria da USP. Identicamente, repudia a truculência do uso de força policial, em Araraquara, para desocupar, na calada da noite, o prédio da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP. Também defende a não punição dos que ocuparam parte da DAC.

Que o reitor receba uma comissão de estudantes e que se estabeleça o diálogo entre as partes. É este o caminho

para a desocupação pacífica da DAC. Jamais a intervenção do poder judiciário com a conseqüente ameaça do emprego de força policial. São estudantes, não são bandidos

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Retirado de "Puro Bacon"

Não sei como definir, seria um charge? uma propaganda? um panfleto? enfim, foi retirado de Puro Bacon.

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a universidade para Otto Maria Carpeaux

artigo do crítico literário Otto Maria Carpeaux onde dá sua visão sobre a origem e objetivos da universidade. clique aqui.

o artigo chama "A idéia da universidade e as idéias das classe médias" e está presente no livro ensaios reunidos.

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