28 de set. de 2007

Manifesto da Congregação da Fac. de Educação da Unicamp em relação às punições referentes à ocupação da DAC

A Congregação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, em sua 216a reunião ordinária, no dia 26 de setembro de 2007, aprovou, por unanimidade, esta manifestação pública acerca dos recentes desdobramentos no interior da universidade relativos à ocupação do espaço institucional da Diretoria de Assuntos Acadêmicos (DAC), ocorrida por deliberação do movimento estudantil organizado, no contexto da última greve de professores, funcionários e estudantes das universidades públicas paulistas.

Foi com estranhamento, pesar e apreensão que assistimos à instalação de uma comissão de processo sumário, mesmo após a comissão de apuração de responsabilidades ter registrado que nenhum dano material ocorreu no processo de ocupação da DAC. Estas ações, expressamente legalistas, intimidadoras e orientadas por um desejo inadmissível de criminalização do movimento estudantil e de viabilização de punições exemplares, pautam-se em disposições disciplinares internas que, infelizmente, amparadas pelo Regimento Geral da UNICAMP, não são condizentes com os princípios democráticos relativos às liberdades de organização, manifestação e expressão, garantidas pela Constituição brasileira em vigor.

Ao mesmo tempo, tais práticas disciplinares não deixam espaço para o reconhecimento do caráter político de resistência organizada em que se pautaram, não só as ações do segmento estudantil de ocupação simbólica de espaços institucionais, mas, também, as de docentes e funcionários no interior de um movimento mais amplo de mobilização da comunidade universitária, em defesa da autonomia das três universidades públicas paulistas, fortemente agredidas pelos decretos do Governo do Estado, autoritários, anti-democráticos e de natureza intervencionista.

Acabamos de celebrar quatro décadas de vida universitária na Unicamp. Nossa história política e institucional registra, no transcorrer desses 40 anos, inolvidáveis e destacados momentos de luta, de enfrentamentos e de defesas, coletivas e sociais, de direitos à expressão cultural, de manifestação política e identidade pluralista. Tenhamos a dignidade de reforçar essa identidade democrática tão arduamente conquistada. Qualquer punição à manifestação política dos estudantes por ocasião da greve que marcou nossa história institucional neste ano de 2007 não será coerente com os princípios norteadores de uma universidade que tem assumido, historicamente, a missão de educar para a liberdade, de formar para o respeito à diversidade e de atuar na direção do bem público e comum. As liturgias de vigiar e punir se prestam mais a identificar sociedades disciplinares e totalitárias, distantes da natureza cívica e democrática de uma comunidade de pesquisadores, educadores e espíritos emancipados.

Se no interior destas lutas pela autonomia universitária, um aluno for punido, justamente por ter-se envolvido em um movimento legítimo e coletivo, qualquer que seja a punição, perde a Unicamp - enquanto universidade pública, gratuita e de qualidade -, perde a democracia.

Nesse sentido, a Congregação da Faculdade de Educação não só torna pública a sua indignação em relação à instalação e à delegação de poder institucional à comissão de processo sumário para deliberar sobre o episódio específico de ocupação, como também vem solicitar ao Magnífico Reitor da Unicamp a imediata suspensão das atividades dessa comissão e o compromisso público com a não punição de quaisquer estudantes envolvidos com o episódio da ocupação simbólica da DAC.

Trata-se, portanto, de momento propício para, ao invés de reforçar as práticas punitivas, envidar esforços para desencadear, através dos meios institucionais vigentes na UNICAMP, uma ampla revisão de seus mecanismos de cunho disciplinar, militarista ou inquisitorial, para a apropriação de formas colegiadas dialógicas, sensíveis, de expressão pública das diferenças e contradições, próprias de uma sociedade que tenta superar as dominações.

Congregação da Faculdade de Educação da Unicamp, 26 de setembro de 2007.

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Quanto às punições

Hoje pela amanhã (agora há pouco na real) houve uma manifestação realizada pelos estudantes da unicamp em frente ao centro de convenções da universidade. Os protestos foram centrados contra as possíveis punições a alguns dos integrantes do movimento de greve e de ocupações. Atualmente 5 alunos da graduação da UNICAMP sofrem processo de sindicância sem direito a plena defesa. Na primeira reunião com a presença dos alunos acusados a comissão de sindicância, dirigida pelo professor Paulo Mazzafera, tentou impedir a entrada do advogado dos estudantes.

No local onde hoje se realizou o ato aconteceria um fórum de debates sobre o ensino superior com várias personalidades, entre elas Carlos Vogt, secretário do ensino superior, proferindo uma palestra. Misteriosamente o secretário cancelou de útlima hora sua vinda à UNICAMP.


Até algumas horas atrás um dos auditórios do centro de convenções era ocupado por estudantes que debatiam sobre conjuntura política.
aqui ao lado Carlos Vogt que aceita discutir ensino superior só em seus termos.




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25 de set. de 2007

Mano Brown no Roda viva?

"Cuba deixou de tentar ser Nova Iorque para ser, pelo menos, Cuba.
O Brasil quer ser Nova Iorque."
Mano Brown, Roda viva.

São raros os momentos em que as duas esferas do Brasil entram em uma conversa civilizada dentro de um espaço midiático tradicional. O programa Roda viva, da TV Cultura é um desses espaços, e dos bem reconhecidos. Nessa semana, o entrevistado foi Mano Brown, dos Racionais MC, que dispensa apresentações. Foi um programa interessante, tanto pelas ações dos entrevistadores quanto pelo entrevistado.

Criticidade

Mano Brown é uma voz crítica, antes de tudo. Crítico no sentido de conexão total com a sua realidade objetiva, na negação de tudo que poderia nublar sua visão sobre o seu entorno. Ele enxerga a sua história e as outras histórias ao seu redor a partir de seu próprio ponto de vista, dando peso e importância para elas, ao mesmo tempo em que é consciente de como é relativa a posição de onde ele enxerga. Ele é ele e a realidade é a realidade e ele carrega sempre em sua fala as marcas dessa realidade como ela é entendida e vivida por ele, Mano Brown.

Penso que não é razoável eu tentar aqui resumir as idéias faladas por ele na entrevista, porque elas com certeza perderiam muito da claridade e das distinções sutis que ele coloca. Creio que basta dizer que, ao meu ver, ele tem uma postura ferozmente radical sobre a sociedade brasileira. Radical no sentido primordial, de raíz, de encarar os fundamentos de tudo e de pensar na realidade objetiva (essa é a palavra-chave) das coisas, defendendo o princípio da "atitude", do ato, da ação, coletiva e voltada ao seu entorno. No contexto da radicalidade dessa posição, fica claro que seu falar tem que ser categórico, tem que recortar o mundo para poder agir sobre ele e também para entendê-lo. Mano Brown sabe que é necessário esclarecer as divisões fundamentais e estabelecer pontos básicos, de onde ele parte para a argumentação de suas posições.

Entrevistadores

Ficou claro também que a divisão entre os entrevistadores e o entrevistado não existia apenas como a divisão de papéis dentro do programa. Ali estavam presentes e marcadas no mínimo duas posições diferentes e conflitantes quanto à realidade nacional. Mano Brown fala de seu entorno, da periferia, da auto-organização das favelas, do caráter opressor das leis do país, do desconhecimento do resto da sociedade sobre a situação do pobre e do morador da favela, da diferença cultural entre o branco e o negro. Enquanto isso, os entrevistadores insistiram em perguntas sobre suas posições individuais, íntimas, quase emotivas; como diz Marilena Chauí, perguntar demais sobre o âmbito íntimo e familiar de uma pessoa diminui sua significância social e seu caráter de posição racional e é uma das rotinas mais comuns da grande mídia justamente por isso. O segundo bloco do Roda viva foi exatamente isso.

Em outros momentos, os entrevistadores tentaram armar arapucas sutis para que ele dissesse as polêmicas que queriam ouvir sobre o tráfico, sobre as drogas, armadilhas essas destinadas a dar munição a comentadores da grande mídia (vá ver o que o Reinaldo Azevedo escreveu sobre a entrevista) para acusar Mano Brown de infrator, de lulista, de fazer apologias. Penso que, como o próprio rapper falou, eles pegaram leve, afinal de contas, ele já está mais do que escolado para evitar armadilhas tão banais e ao mesmo tempo afirmar suas posições, sem fugir da responsabilidade e das possíveis polêmicas de dizer a verdade; esse modo de proceder dos entrevistadores revelou seu desconhecimento do entrevistado, além de seus medo e desprezo por ele, assim como a necessidade de servir ao establishment. Eles queriam alguma polêmica saindo dali, mas o rapper falou com tanta autoridade, fundamentada, ainda que rústica e simples, que qualquer um aberto a realmente ouvir o que ele estava dizendo entenderia a real natureza daquilo e não se perderia em tentativas de achar provas para algum tipo de condenação.

Opine!
Enric "Grama" Llagostera

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24 de set. de 2007

Mídias eu-cêntricas

Em palestra na sede da revista Caros Amigos sábado o professor e jornalista Cláudio Tognolli criticou aqueles que se denominam como sem mídias. São blogueiros alinhados com o pensamento de esquerda e que constituiram agora uma rede chamada sivuca. Na visão de Tognolli o termo sem mídia é totalmente antiquado e fora de propósito pois vivemos no momento justamente o contrário, são os "com mídia". Reclamar da falta de meios hoje não condiz mais uma vez que com blogs e youtubes da vida a produção de conteúdo está de fato pulverizada.

A realidade da internet atual permite a todos se expressaram a partir de seus microcosmos e editarem seu consumo de informções com muito mais liberdade. O mais impressionante é que essa guetificação isso vem ganhando credibilidade frente aos grandes veículos de comunicação, ou seja ninguém mais quer (ou há uma tendência a não querer) o formato "quadrado" de emissor e receptor de conteúdo.

Não sou autoridade pra discutir mais asusnto assim vale mais a pena ler um artigo do próprio Tognolli aqui.

alguns links tb que enriquecem a discussão sobre o tema:
Thundervox ("web tv" feita pelo thinderbird)


New York Times de hoje (se adaptando a essa nova realidade abriu totalmente seu conteúdo)
Desculpe a Poeira (blog de ricardo lombardi que comenta matérias de diversas publicações gringas)

obs.penso agora sobre o assunto e após alguma reflexão tentarei escrever algo. Mas digo, e o "Buzina" está de prova, que a palestra do Cláudio foi um turbilhão de informações ainda a serem digeridas... valeu muito a pena

cae.

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