28 de jul. de 2007

Capturados, entregues, reféns.

Um Estado capturado por interesses privados. Interesses que não mostram a cara, mas usurpam de direitos públicos. É uma país entregue: agências do governo reguladas por quem deveriam regular, lobies rolando no legislativo a torto e a direito, financiamento de campanhas vindo dos locais mais estranhos.

Posto aqui um artigo de Luiz Gonzaga Belluzo publicada na última edição de Carta Capital. Em sua análise do Estado brasileiro Belluzo é preciso "o Estado está `a mercê dos grandes atores privados. As agências reguladoras apresentam, por exemplo, impulso descontrolado a acomodar interesses e transformá-los em políticas 'públicas'".

Impressionante, nos acostumamos com mentiras no Brasil, com o jeitinho brasileiro e tudo o mais. É um falso Estado liberal, uma vez que somos nossa estrutura política beira o absolutismo, é uma democracia que despreza o povo.

Segue o artigo de Belluzo com um pequeno comentário meu em itálico.
Abraços, Caetano.

Reféns

de Luiz Gonzaga Belluzzo

Nas grandes tragédias, aéreas ou terrestres, as explicações categóricas e monocausais, disse um especialista, são sempre precipitadas, para não dizer levianas. É humano, demasiado humano, buscar os culpados e apontá-los `a execração pública. O piloto, o governo, as empresas, a Infraero e por aí vai.
Mas há fortes indícios de que a raiz das desgraças está na imobilização do Estado brasileiro. De uns anos pra cá, a tão decantada "privatização", isto é, captura de suas funções por interesses privados, tornou quase impossível a definição de políticas em nome dos interesses coletivos.
As agência de regulação, por exemplo, apresentam impulso descontrolado a acomodar os interesses e transformá-los em políticas "públicas". Não é preciso ser Santos-Dumont para saber que o Aeroporto de Congonhas não tem capacidade para abrigar um movimento tão intenso de pousos e decolagens de aviões de grande porte.
A captura dos reguladores pelos que deveriam ser "regulados" tornou-se um clássico da administração pública brasileira. A política monetária do Banco Central engorda o bolso dos senhores da riqueza líquida e impede os investimentos em infra-estrutura. As empreiteras disputam a ferro e fogo as concorrências viciadas.
O Estado é refém dos grandes atores privados. Não por acaso corre grana `a vontade para financiar candidatos favoráveis `a consecução de objetivos escusos e outros nem tanto. Paradoxalmente, a privatização `a brasileira tranformou-se num festival de intervencionismo estatal e dirigismo, em desrespeito aos princípios da limpa concorrência que dizem reverenciar. O peso político das classes proprietárias na representação parlamentar, e , sobretudo, na máquina burocrática do Executivo, promove sistematicamente a distribuição eqüitativa de favores entre "iguais", ao mesmo tempo que os desiguais morrem nos hospitais públicos ou sucumbem `a insegurança dos aeroportos.

A perda da independência moral e política começa nas eleições, cada vez mais caras. Por isso, até hoje não foi aprovada a lei de financiamento público para campanhas eleitorais, condição mínima para que seja instaurado por aqui um regime parecido com a democracia. Luciano Canfora, ao desmascarar a retórica dos demagogos que se dizem democratas, proclamou, outro dia, uma verdade elementar e, por isso mesmo, largamente desconsiderada: na democracia a autenticidade da representação popular deve sempre ter precedência sobre a "governabilidade".
Mas, hoje em dia, em toda a parte, a concorrência entre os grandes do mercado suscita simultaneamente a tentativa sistemática de violação das normas que deveriam reger as relações econômicas no Estado de Direito e a busca de proteção política de seus interesses. A concorrência entre as grandes empresas não só arrasta o Estado para a arena dos negócios, como torna violenta a disputa por sua capacidade reguladora e feroz a luta pela captura de recursos fiscais.

Nesse ambiente, prosperam as razões e os impulsos do autoritarismo que pretendem sacrificar a legalidade dos meios `a legitimidade dos fins. Escancaram-se as portas para a horda de fascistas que pretendem equiparar as garantias individuais dos ricos e da classe média ao desamparo da maioria obre, diariamente submetida ao justiçamento praticado pelos esbirros do abuso.
A lei, seus embaraços e delongas processuais estão prestes a ser substituídos pela opinião fulminante, pela desmoralização escrachada dos poderes republicanos, executada por procedimentos fora-da-lei dos agentes do poder público, em contubérnio com os promotores de escândalos. `As urtigas com o Estado de Direito, a interdependência dos poderes, as garantias individuais e outras tapeações da democracia. -interessante ler esse parágrafo com a entrevista, recém postada aqui, de Roberto Civita. Como demonstra os interesses do Barão Civita e o comportamento da Veja.
O Estado capturado mostra-se negligente com a vida dos seus cidadãos . Tal descaso é cúmplice da violação sistemática dos códigos da cidadania moderna, que foram concebidos como uma reação da maioria contra o individualismo anarquista e reacionário dos mais fortes e poderosos.
No Brasil de hoje as distintas burocracias de Estado tratam de abocanhar fracções crescentes de poder, flertando com a ilegalidade e o arbítrio. As funções essenciais do Estado de Direito vêm sendo manipuladas para perseguir os adversários, ajudar os amigos. Comportam-se, diante dos cidadãos , como forças estranhas e hostis, usurpando os poderes que deveriam ser exercidos em nome do interesse geral, do interesse público.

>> leia o post inteiro

Isso é coisa que se pergunte?

A postagem abaixo foi retirada do observatório da imprensa e é de autoria do jornalista Luis Weis. Nela Carlos Chaparro (professor da ECA/USP) entrevista Roberto Civita (presidente da Civita. Os comentários feitos durante a entrevista são do Luis Weis; faço os meus no fim.
A imagem ao lado é de Francisco Goya (1746 - 1828); Asta su Abuelo, da série Los Caprichos.



A newsletter eletrônica Jornalistas & Cia. entrevistou na semana passada o presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, no 9º trabalho do gênero com o que denomina “Protagonistas da Imprensa Brasileira” – os barões da mídia nacional.

Às tantas, um dos entrevistadores, o professor Carlos Chaparro, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, a ECA/USP, convidado a participar do pingue-ponge pelos editores de Jornalistas&Cia, Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli, iniciou o seguinte memorável diálogo com o protagonista – uma verdadeira aula de jornalismo inquisitivo:


O senhor disse que a lei deve ser cumprida, pois sem lei não há democracia. A lei deve ser para todos.


Sim, a lei deve estar acima dos governantes.

­

E acima da imprensa também.


Sim.


Pois a lei diz o seguinte: gravações, mesmo autorizadas pela Justiça, não podem ser divulgadas se não servirem como prova em processo. A regulamentação de um preceito constitucional estabelece isso. No entanto, vulgarizou-se a transcrição de declarações de gravações, o que é uma transgressão à lei. Há aí um conflito jurídico, talvez, com a Lei de Imprensa, mas a lei estabelece isso. Inclusive, a gravação que não puder ser usada como prova tem que ser destruída. A imprensa está desrespeitando a lei, talvez para o bem da Nação, talvez para que a lei mude, não sei. Eu gostaria de saber, por exemplo, se as redações aceitariam ter gravadas e divulgadas as suas conversas, os seus acertos com as fontes etc. O que seria muito agradável para o público. A lei também diz que é um direito constitucional a inviolabilidade de uma porção de coisas, inclusive da honra etc. Quando se divulgam coisas sem ter a certeza de que são verdades, corre-se o grave risco de desrespeitar a lei. Por causa disso há uma grande quantidade de processos em cima das publicações.Depois da Constituição de 1988, quando, em vez de usar a Lei de Imprensa para processar os jornais, passou-se a usar a Lei de Responsabilidade Social, a quantidade de processos aumentou tremendamente, inclusive já com algumas sentenças pesadas. Isto levou as empresas jornalísticas a tomar cuidado com as imprudências, porque o jornalismo é por si um clima de impulsos para as imprudências. Hoje, o chamado Direito Preventivo entrou nas redações e eu gostaria de saber como isso se dá na Abril. Que cuidados a Abril tem para cumprir a lei e que cuidados tem para que as imprudências jornalísticas não terminem em processo?


Na resposta, Civita diz que os diretores de redação e os redatores-chefes são obrigados a fazer cursos internos sobre a Lei de Imprensa. E que a Veja tem uma advogada de plantão que examina os textos a serem publicados para que a revista não seja processada - “e para cumprir a lei, claro”. E, depois de uma pausa para meditação, completa: “Deveríamos fazer um debate aqui dentro sobre o uso de gravações, porque nunca fizemos. Tenho que pensar nisso, vou promover." Normalmente, nessa hora, um entrevistador comum se daria por satisfeito e iria em frente. Mas não o professor Chaparro. Ele insiste:


Porque por trás dessas gravações há sempre um interesse. Elas não chegam de graça às redações. Então é uma coisa que, a mim, como cidadão, preocupa. Outra coisa que me preocupa como leitor da Veja é a mistura, na minha opinião pouco inteligente e perigosa, que Veja faz de argumentação com narração. É comum a gente começar a ler uma reportagem com um adjetivo chamando o sujeito de ladrão, e xingando. Às vezes a gente não sabe se está lendo um editorial ou uma reportagem. Isto rouba eficácia ao texto, rouba eficácia à credibilidade da revista. Essa mistura de argumentação com narração é inevitável, mas me parece que no caso de Veja o que se sobrepõe a uma reportagem é a perspectiva argumentativa e não a narrativa. É um grande perigo para a revista. A mim, como leitor, é uma coisa que desagrada profundamente, porque o ajuizamento do repórter se coloca acima dos fatos. Sou assinante de Veja há 20 e poucos anos e não sei se isso preocupa o senhor ou não. A mim incomoda como assinante.


Nas cordas, o entrevistado tenta se defender com a lisonja e a anuência.

O senhor é muito crítico, experiente, bem informado e inteligente. E tem uma visão muito objetiva disso, vista de fora. Primeiro: a objetividade no ser humano é virtualmente impossível de alcançar, inclusive no jornalista. A gente deveria se esforçar para ser objetivo, acho que tem a obrigação de ser. Eu fico incomodado quando leio, não só em Veja como em qualquer lugar, em outras revistas e jornais, uma coisa que começa parecendo uma reportagem e acaba parecendo um editorial. Aí eu digo “Não pode fazer isso. Não deveria”. Eu concordo plenamente.


Só que o entrevistador, rigorosamente fiel ao gênero “Isso é coisa que se pergunte”, que a imprensa brasileira raramente cultiva, não deixa barato:


A questão não é moral, é técnica. É de comunicação.


Vem então essa antológica resposta:

Mas não deveria. Não pode começar contando uma história e terminar xingando a mãe de seja lá quem for. Por definição, não deve. Mas, por outro lado, os leitores clamam, não são como o senhor, querem que a sua revista se indigne. Eles querem. Os brasileiros, hoje, não posso falar de outras partes do planeta, mas os leitores de Veja querem a indignação de Veja. Eles ficam irritados conosco quando não nos indignamos. Estou tentando explicar, não justificar. Acho que Veja se encontra toda semana na difícil posição, de um lado, de saber que reportagem é reportagem e opinião é opinião, sendo que não tem editoriais além daquele da frente; e, de outro, sabendo que os leitores... É só ler as cartas, duas mil por semana, nós publicamos uma enorme quantidade de cartas justamente para que se possa sentir o cheiro do enxofre e da pólvora. E acho que quem está escrevendo ou editando se encontra em posição difícil de decidir o quanto deve deixar entrar a emoção e a indignação e o quanto não. É difícil. Eu reconheço que esta talvez seja a nossa maior questão, não a das gravações. Veja tem uma posição clara, ninguém duvida de como ela se situa. Tem gente que não a suporta e não a tolera, não quer ver nem pintada. A esquerda acha que somos de direita, a direita acha que somos de esquerda [comentário meu: mas nem a TFP acha a Veja de esquerda!], os liberais acham que somos contra, e deve ter as mães carolas que acham que somos anti-religião. Deve haver de tudo, entre os que não querem saber da revista. Mas a torcida é de cinco, seis, sete, oito milhões de pessoas por semana. Eles gostam, e a gente faz para eles (risos). Mas reconheço a sua posição...


Enfim, o golpe de misericórdia:


Acho que há outras maneiras de se fazer a mesma coisa, é um problema técnico, de linguagem, de que o jornalismo não se divide em opinião e informação, mas em argumentação e narração. Elas estão sempre inevitavelmente misturadas, mas quando se está lidando com narração a informação é que tem que ser colocada em evidência e não a opinião.


E o fecho em desespero-de-causa:


Vou convidar o senhor para um debate com os editores de Veja sobre isso. Vamos promover esse debate e eu quero ouvir.


A torcida do Flamengo também.

____________________________________________________________________________


COMENTO:

Civita assume, na nossa cara, o sensacionalismo da Veja e afirma que o bom senso, no jornalismo, é relativo. Já que, segundo ele mesmo:

Não pode começar contando uma história e terminar xingando a mãe de seja lá quem for. Por definição, não deve. Mas, por outro lado, os leitores clamam, não são como o senhor, querem que a sua revista se indigne.
Quer dizer senhor Civita que não pode xingar a mãe mas, se os leitores pedirem, fazer o quê? Esse "não são como o senhor" é absolutamente nojento. Numa resposta anterior Civita diz ao professor:
O senhor é muito crítico, experiente, bem informado e inteligente.
O que será que o presidente da Abril quis dizer com os leitores clamam, não são como o senhor? Na minha opinião, nesse ato falho - reconheço, foi um ato falho, talvez ele não quisesse dizer exatamente isso, só lhe passou pela cabeça -, ele assume ser impossível conciliar inteligência, e o fato de estar bem informado, com a leitura da revista Veja.

Abraços, Caetano


>> leia o post inteiro

26 de jul. de 2007

Quem paga a conta II ?

Hoje o dia está para números! Apresento um relatório hoje com as revistas "Carta Capital" e "Veja". Procurei analisar o custo real da revista, qual a relação do número de páginas para o número de páginas de propaganda, bem como qual a porcentagem de anúncio estatal no montante das propagandas. Usei para tanto as duas edições que circulam essa semana, o numero 454 da Carta Capital e o 2018 da Veja.

Seguem os números:


VEJA
- Preço:8,40, 132 páginas, 47 páginas de propaganda, sendo 4 destas de estatais. Não somei aqui os anúncios que correspondem a menos de uma página, mas são 2 de meia página e 5 de um terço de página.
Diante desses números chegamos ao seguinte: aproximadamente o custo da revista é de 10 centavos por página de conteúdo; 35,6% das páginas da Veja foram voltadas para propaganda, sendo que as estatais correspondem por 8,5% dos anúncios da revista.

Carta Capital
- Preço: 7,90, 76páginas, 13 páginas de propaganda, sendo 2 destas estatais.
Para Carta Capital chegamos aos seguintes dados: aproximadamente o custa da revista é de 12 centavos por página de conteúdo; 17,1% das páginas da Carta Capital foram voltadas para propaganda, sendo que as estatais correspondem por 15,3% dos anúncios da revista.

>> leia o post inteiro

Um outro quadro

O Pan vem chegando ao final e a maior questão é: o Brasil ultrapassa ou não Cuba no quadro de medalhas? Galvão Bueno e sua trupe de ufanistas gloriosos parecem estar empolgadíssimos com a possibilidade de superarmos os Cubanos. Para uma melhor análise do estado do esporte em cada país decidi somar ao quadro de medalhas alguns dados como o PIB e o número de habitantes dos países. Vendo o quadro dessa forma dá pra notar que o Canadá "precisa" de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes para obter um ouro, enquanto o México, para obter feito de igual porte, tem que contar com aproximadamente 11,5 milhões de habitantes.
As análises são livres e bem vindas, ao final do Pan elaborarei o quadro final com mais alguns dados como Dívida Externa e crianças na escola.
Os dados de PIB e População foram arredondados por mim, se referem ao ano de 2005 e foram obtidos no site do Banco Mundial, exceto o PIB de Porto Rico e Cuba que se referem ao ano de 2006 e foram obtidos no site Index Mundi.
E o número de medalhas é relativo até 'as 17:50 de 26/07
Para visualizar melhor a tabela clique nela.

>> leia o post inteiro

23 de jul. de 2007

De radicalismos e irresponsabilidades

A internet permite que se trombe "pessoas" muito interessantes, não trato aqui dos famigerados encontros virtuais, mas de passar por "locais" curiosos que te levam a pensar como você chegou lá. Blogs como o do reinaldo azevedo, luis nassif, paulo henrique amorim são famosos, são mainstream, borbulham até em conversas de bar: "ô, vc viu o que o reinaldão escreveu. aqueles petralhas malditos". Mas e aquele blog que você chega meio sem referência alguma? Por causa de um comentário que você leu não sei em que lugar, fruto de uma busca perdida no google ou qualquer coisa do gênero.
De um tempo pra cá comecei a frequentar um blog, " a política como vc vê", fruto inclusive de um dos donos do blog que entrou aqui - quando esse blog se resumia às questões da greve ainda - e pediu para darmos uma força. Entrei no blog, achei super pertinente e decidi colocar na nossa lista de link. Desde então entro frequentemente no "A Política..." sem nem saber quem são os autores, qual a origem, formação, religião, etc. Sei que é um blog muito legal e que vale a pena ser visitado: A Política Como Você Vê.
Agora fiz todo esse blá blá blá pra quê? Só pra postar aqui um post deles de lá; é uma análise precisa dos blogões de opinião e das guerras entre os internautas que se degladeiam em comentários de baixo nível. Mostra também o quanto esses blogs de opinião são frutos, em seus radicalismos, de uma caça voraz por clicks; parece ser mais necessário atingir as viceras do internauta do que seu cérebro. Segue o texto, com um negrito meu na parte que acho mais pertinente.
Abraços, Caetano.
Sexta-feira, 20 de Julho de 2007 por Bira di Oliveira

Os comentários nos blogs de opinião estão fervendo, parece tempo de eleição. Lembrei-me do início de 99. Naquela época não haviam blogs e a internet estava engatinhando por aqui. Era início do segundo mandato de FHC e o pau comia, lembram? O radicalismo tinha alcançado tal ponto que chegou-se a pedir o impichamento de FHC por conta da desvalorização do real. FHC se estrebuchou todo, acusou a oposição de estar querendo dar um golpe (naquela época, com ajuda de HH e Brizola) e coisa e tal. Não haviam os comentaristas de blog e as opiniões eram dadas nas ruas, ou naqueles ambientes "éticos" que o PT montava, com ajuda da igreja, ABI, OAB, etc., etc. Agora o que temos? Um ambiente de internet que ferve, e nas ruas... nada! De um lado a direita, comandada pelo "Tio Rei" (Reinaldo Azevedo). Do outro, a esquerda comandado por "PACO" (Paulo Henrique Amorim). Ao centro, a turma do "deixa disso" (Luis Nassif, Alberto Dines, Etevaldo Dias), ora a incendiar um lado, ora o outro. Isso sem contar com os "to nem aí" do Globo, Folha e Estadão, que nem esquentam a cabeça com a "tucanalha" e a "petralhada", simplesmente os ignoram ou deletam seus comentários. E assim se passam os dias nesse entretenimento noticioso intitulado "blog de opinião", um jogo de idiotas, semi-analfabetos políticos, se atacando e revirando as vísceras as custas das estratégias dos jornalistas de sites de Portal (os sem rádio, tv ou jornal), servindo aos servidores, a serviço do "clic" para vender espaço ao patrocinadores e dar lucro ao seu patrão. Em tempo: no episódio do "top-top" do Marco Aurélio lembrei-me da antena parabólica do Ricúpero. Ou o comentário dele também não foi feito em off, reservadamente? Só que naquela época a moral ainda era outra: vacilou... dançou!

>> leia o post inteiro

Sobre muros e linhas

Hoje tomei contato com o trabalho de uma organização chamada Peace Players International. Basicamente o trabalho deles se dá com crianças em zona de conflito étnico. O que eles fazem? Oferecem clínicas, treinamentos, torneios de basquete com as crianças de ambos os lados. Usam o basquete como uma forma de encontro e troca de experiências em zonas onde até o próprio contato se dá de forma problemática.
Não sei se se lembram quando em 2001 protestantes agrediram verbalmente e fisicamente pais e crianças católicos que iam a um colégio em Belfast, Irlanda do Norte. Cena deprimente de crianças chorando e sendo alvos de cuspes de marmanjos trogloditas; na situação eram dois colégios, um católico e um protestante, que ficavam na mesma rua e que, após os conflitos, foram divididos por um enorme muro. Hoje, após a resistência de pais e etc, essa organização consegue trabalhar com as crianças que justamente foram vítimas desses ataques.
Muros são em si um símbolo de recusa à convivência, não se reconhece a existência do outro. Muitas vezes me parece que construir muros é como fechar os olhos. Nega-se o que acontece, é a conclusão conclusão de que é melhor que esses mundos não se encontrem mesmo. Lembro de um documentário de 2002, Carlo Giuliani: Ragazzo; Carlo Giuliani foi um jovem assassinado pela polícia italiana durante protestos contra uma reunião do G-8 em Gênova. Na ocasião a cidade italiana foi dividida por uma linha vermelha pela qual ninguém poderia passar; ela isolava o centro da cidade para reunião dos líderes. Carlo morreu justamente quando, em confronto com a polícia, um grupo de manifestantes tentava atravessar essa linha vermelha. A fala da mãe de Carlo é marcante no filme: até quando vamos viver com essas linha vermelhas no mundo, a linha que separa os ricos dos pobres. A mãe reconhece de cara o que representava aquela linha. O que é uma globalização que, como método, isola áreas?
Em 2005 estudantes paulistas foram impedidos (a pedidos do ex - governador Geraldo Alckmin -psdb- e do ex-presidente da assembléia Rodrigo Maia (DEM) de entrar na Assembléia Legislativa para acompanhar uma votação sobre verbas relativas ao ensino público. Barrados na porta da chamada "Casa do Povo". Na ocasião a linha era composta por algumas dezenas de policias da Tropa de Choque.
O quanto aquela linha de Gênova não pode estar relacionada a esse muro que separa a favela de Paraisópolis do riquíssimo bairro do Morumbi. Não há dúvidas sobre os muros construídos no Brasil e destruí-los me parece o único modo de evoluirmos. Propiciar às crianças dos dois lados do muro abaixo a oportunidade de nadarem juntas, conversarem, jogarem futebol, enfim, conviverem.
Abraços, Caetano.

foto de Tuca Vieira

A imagem que inicia o texto é de Norman Rockwell, mais sobre ele aqui.
E aqui uma reconstituição fotográfica do assassinato de Carlo Giuliani.


>> leia o post inteiro