1) Ensinismo: Essas escolas procuram reduzir suas atividades e todo o processo educativo ao ensino, em detrimento da pesquisa e da elaboração dos conhecimentos. Poderiam ser caracterizadas como instituições de ensino, isto é, escolas propriamente ditas, supondo-se que os cursos dispusessem de instalações escolares, o que nem sempre sucede. Frequentemente, os cursos utilizam locais que mal podem acomodar as turmas de alunos, em geral, mais numerosas do que se recomenda. A atividade de pesquisa, quando existe, subordina-se em geral ao ensino, o qual se realiza em aulas repetitivas, já que não decorre da pesquisa.
Quanto privadas, essas instituições procuram abreviar ao máximo o programa de aulas e sua carga horária. A remuneração e as outras despesas com os docentes constituem o principal item de custos desses cursos. O nível de remuneração dos docentes é fixado pelo jogo do mercado de corretagem de horas-aula.
2) Profissionismo: Os cursos, sempre de finalidade pragmática, seguem programas elaborados a partir de critérios utilitários. Seu conteúdo procura ater-se ao que parece indispensável ao estrito exercício do futuro profissional. Pragmatismo e utilitarismo conduzem ao especialismo: exigência de rigor numa forma de cultura em busca de um crescente acervo de informações sobre um conjunto de problemas de espectro cada vez mais restrito.
O especialismo facilita a adoção do curso rápido.
É o que provavelmente explica o secular esforço dos profissionais liberais brasileiros e, posteriormente, dos profissionais em geral, para impedir que a universidade pública assuma o seu conceito moderno.
3) Isolacionismo: Nada que conceitualmente mais se oponha à universidade moderna do que essas instituições de ensino superior. Uma universidade tem como horizonte o conjunto dos conhecimentos, ao passo que um estabelecimento de cursos profissionais fica confinado ao âmbito de um setor de conhecimentos bem delimitado. Daí sua condição de instituição isolada e a intransigente defesa que fazem do isolamento, ou melhor, do seu isolacionismo.
Para essa epécie de instituição, abandonar o programa de treinamento profissional por um programa de formação significa afastar-se da conexão com o mercado. Ora, o seu horizonte último finda no mercado. A série ensinismo, profissionismo, especialismo, isolacionismo compõem a justificativa da antiuniversidade.
4) Privatismo: Do momento em que o Estado perde para os mercados nascentes e em expansão a condição de referência pragmática - o que só viria a ocorrer no Brasil a partir do momento em que os mercados se formam e se ampliam -, é forçoso que os cursos profissionais reformulem seus programas e objetivos para poder se conformar com as novas linhas da demanda das empresas no mercado das ocupações.
Ora, uma escola que procura subordinar-se de todo às variações do volume e da especificidade do emprego nas empresas tende a transmutar-se ela mesma em empresa, a afim de melhor e mais prontamente se ajustar às oscilçações da curva de demanda.
É assim que, presentemente, a maioria das escolas isoladas privadas de ensino superior tem como principal objetivo conferir diploma que habilite seu portador a obter emprego numa empresa.
5) Autodidatismo: Pelo contato que têm ocasionalmente em seus currículos com algumas disciplinas propriamente teóricas - estudadas unicamente pela função instrumental que desenvolvem no processo de qualificação profissional -, ocorre em certos estudantes o interesse pelo seu estudo direto; mas dada a inexistência da universidade onde poderiam estuda-las, durante todo o tempo que precede sua criação no país alguns profissionais liberais passam a cultivá-las por conta própria. Donde a considerável extensão e importância que assume naquele período o fenômeno do autodidatismo.
6) Substituísmo: Esse autodidatismo é, como se vê, uma manifestação de cultura substitutiva que, no final das contas, é meramente compensatória pela imaturidade do aparelho educacional brasileiro. Dizem-no um fenômeno interiorano. Na verdade, é de ocorrência mais frequente entre os profissionais "ditos" liberais que, na falta do verdadeiro homem de "ciência", passam por ele. É o advogado a fazer as vezes de homem de letras; o médico que pretende ser biólogo; o engenheiro que se diz matemático ou físico etc.
Pode ser apenas uma impressão minha, possivelmente oriunda da frustração de coo a greve deste ano se desenrolou, mas aparemente tais aspectos não conseguiram ser superados e o Brasil ainda espera a criação de sua Universidade Moderna.