20 de set. de 2007

Redução da pobreza? Eu que fiz!

ou Como se fala de redução de pobreza?

Essa é uma boa pergunta a se fazer no atual momento, tendo em vista os resultados do estudo “Miséria, Desigualdade e Políticas de Renda: o Real do Lula”, realizado pela FGV. Antes de continuar, favor reparar melhor no título pouco parcial do estudo que, ao associar a diminuição da desigualdade social durante o governo Lula com o plano Real de FHC, deixa claro que a instituição está longe de fazer numerologia chapa-branca para o atual presidente.


De acordo com os dados desse estudo, o número de miseráveis no Brasil (pessoas que vivem com menos de 125 reais por mês) diminuiu significativamente nos últimos anos. Só de 2005 para 2006, quase 6 milhões de pessoas saíram debaixo da linha da pobreza absoluta. "Ó, somos um país civilizado agora..." Não, não é isso que estou falando: em números absolutos, a redução foi de 42.033.587 pessoas em 2005 para 36.153.687 em 2006. É claro que isso é um grande avanço, um avanço fundamental, mas está muitíssimo longe de ser suficiente. A parcela mais invisível, destruída e brutalizada de nossa população está melhorando suas condições de vida em ritmo acelerado e recorde e isso é algo importante demais para passar despercebido, mesmo para a mídia que os delega à invisibilidade e à inexistência.

Não me interessa discutir exatamente os dados estatísticos desse estudo (para quem quiser mais informações sobre o mesmo, visite esse artigo da Carta Maior). O que penso ser interessante é o relativo silêncio da grande mídia e seu peculiar modo de noticiar. Como não podia deixar de ser, o grande jonalão que acompanho, a Folha, lançou matérias sobre o assunto, mas não pôde, em nenhuma delas (matéria 1 e matéria 2 ), deixar de dar boa parte dos méritos do atual avanço contra a pobreza para o ex-presidente FHC. Além disso, não foi citada a autoria do estudo como sendo realizado por um centro de pesquisas ligado à FGV. Da maneira que está escrito nas matérias, parece que esse centro existe autonomamente e sem filiação nenhuma, o que deixa no ar uma possível orientação chapa-branca, além de tirar crédito e autoridade sobre os resultados.

É impressionante que uma notícia desse peso (6 milhões de pessoas!) seja tratada como uma matéria menor, com menos linhas que um resumo de jogo entre Cruzeiro e Atlético Mineiro (jogaço). Politicamente, isso demonstra, sem rodeios, o desprezo desses grandes meios pelos assuntos que realmente afetam a massa do povo brasileiro, além do total compromentimento desses meios com a alienação do povo quanto à sua própria condição. Também é notável a vontade de manter o capital político de grupos da oposição ao se transferir o mérito principal para o governo anterior, do PSDB. Como pode ser que a redução da pobreza pode ser comparada ao plano Real? Qual é a natureza de cada uma dessas medidas políticas? Penso que uma é completamente diferente da outra em natureza, alcance e objetivo e a mera comparação dos dois já representa uma tentativa de distorcer a natureza de um para render dividendos ao outro.

Ah! E pesquisas de popularidade no Ibope são muito mais importantes que miseráveis, não?


Opine!
Enric "Grama" Llagostera

Um comentário:

Carolina Mota disse...

Quero comentar um pouco da pesquisa, acho a politica do lula um tanto quanto assistencialista e essa diminuiçao de miseria, uma fachada: não existe melhoria de qualidade de vida, apenas elevação da renda das pessoas!!!!!!! Acho a pesquisa em si é um pouco tendenciosa, nao mostra como vivem as pessoas, mas a renda delas.
Grama, amei a comparação como Cruzeiro e o Atlético!!!!!
Beijos, Carol