Olha, faz muito tempo que não posto alguma coisa, digamos, relevante. No entanto, não será hoje que isso vai mudar. Tomado pela felicidade de ter visto meu Palmeiras vencer por 4 a 1 o time Sãopaulino, tomo a liberdade de postar um texto futebolístico que encontrei no Blog do Juca Kfouri, que por sua vez encontrou o texto na Folha de ontem, 16 de Março. Não tem nada ver com o jogo de ontem, mas serve para expressar meu contentamento.
Ah, tentarei ser mais ativo aqui no ParouParou a partir desta semana que entra.
Segue:
O último homem em pé
EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online
O goleiro Marcos é de um tipo que não existe mais no futebol. Ou que talvez nunca tenha existido. O tipo honesto. Tão honesto que pode ser confundido com ingênuo. Isso para aqueles que consideram ingenuidade não tirar proveito de qualquer situação a qualquer custo.
O arqueiro palmeirense levou uma verdadeira "voadora" do atacante Malaquias, uma entrada com a sola da chuteira em sua barriga, no jogo contra o Bragantino. Logo em seguida, acabou agredindo o rival e sendo expulso. Mas quero ir por partes para destacar o que acho realmente relevante em todo o incidente.
O lance pode ser muito discutido (e, sim, ele já foi exaustivamente debatido), mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de Marcos ter permanecido em pé após o choque.
Pouco depois, nos programas de mesa redonda da vida, não foram poucos os que defenderam que o goleiro devia ter caído. De fato, se tivesse feito isso, Marcos por conseqüência não teria sido expulso, já que não chutaria o rival caído. E também não haveria o pênalti. E seria possível até o juiz ter dado falta para o Palmeiras e expulsado Malaquias.
Mas ir ao chão naquele momento implicaria uma coisa que parece bastante difícil para um jogador como Marcos: fingir. Ele poderia cair e rolar no chão por longos minutos, mas estaria simulando, apesar de realmente ter sido atingido em cheio pelas travas da chuteira do rival.
É a velha história da malandragem do futebol. Todo mundo tem que ser muito esperto e levar vantagem sobre os outros. Se não fizer isso é porque é ingênuo, porque não conhece o mundo do futebol.
Mas Marcos conhece muito bem o mundo do futebol. É campeão da Libertadores, campeão Mundial. E, além de ser um excelente goleiro, ele é também uma pessoa diferente.
Diferente, por exemplo, de outro grande goleiro brasileiro, Dida. Recentemente, o goleiro do Milan foi tocado (de leve, bem de leve) no rosto por um torcedor do Celtic, em jogo da Copa dos Campeões, e desabou no chão como se tivesse sido esmurrado pelo Maguila --não antes de ter tentado correr atrás do "agressor", o que tornou a cena ainda mais patética.
É claro que não dá para julgar o Dida por uma atitude como essa, impensada, no calor do jogo. Mas dá para perceber qual é o padrão de atitude da maior parte dos jogadores hoje em dia, em contraste com a postura do Marcos.
O fato de o palmeirense ter chutado Malaquias logo em seguida é condenável, mas é necessário ressaltar que não dá nem mesmo para definir o ato como um chute de fato. Foi mais um "empurrão com o pé". Mas isso não impediu Malaquias, este sim, de levar as mãos dramaticamente ao rosto, como se tivesse sido atingido ali pelo goleiro --o que claramente não aconteceu.
No dia seguinte, em diversas entrevistas, Marcos reconheceu o erro de ter "partido para cima" do atacante, admitiu que não devia ter feito aquilo. Mas negou tentativa de agressão. Mesmo assim, provavelmente será julgado pelo STJD. Malaquias, não. Nem pela agressão e nem pela simulação.
Talvez o honesto seja mesmo o ingênuo. Talvez Marcos seja o último homem em pé
Ah, tentarei ser mais ativo aqui no ParouParou a partir desta semana que entra.
Segue:
O último homem em pé
EDUARDO VIEIRA DA COSTA
Editor de Esporte da Folha Online
O goleiro Marcos é de um tipo que não existe mais no futebol. Ou que talvez nunca tenha existido. O tipo honesto. Tão honesto que pode ser confundido com ingênuo. Isso para aqueles que consideram ingenuidade não tirar proveito de qualquer situação a qualquer custo.
O arqueiro palmeirense levou uma verdadeira "voadora" do atacante Malaquias, uma entrada com a sola da chuteira em sua barriga, no jogo contra o Bragantino. Logo em seguida, acabou agredindo o rival e sendo expulso. Mas quero ir por partes para destacar o que acho realmente relevante em todo o incidente.
O lance pode ser muito discutido (e, sim, ele já foi exaustivamente debatido), mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de Marcos ter permanecido em pé após o choque.
Pouco depois, nos programas de mesa redonda da vida, não foram poucos os que defenderam que o goleiro devia ter caído. De fato, se tivesse feito isso, Marcos por conseqüência não teria sido expulso, já que não chutaria o rival caído. E também não haveria o pênalti. E seria possível até o juiz ter dado falta para o Palmeiras e expulsado Malaquias.
Mas ir ao chão naquele momento implicaria uma coisa que parece bastante difícil para um jogador como Marcos: fingir. Ele poderia cair e rolar no chão por longos minutos, mas estaria simulando, apesar de realmente ter sido atingido em cheio pelas travas da chuteira do rival.
É a velha história da malandragem do futebol. Todo mundo tem que ser muito esperto e levar vantagem sobre os outros. Se não fizer isso é porque é ingênuo, porque não conhece o mundo do futebol.
Mas Marcos conhece muito bem o mundo do futebol. É campeão da Libertadores, campeão Mundial. E, além de ser um excelente goleiro, ele é também uma pessoa diferente.
Diferente, por exemplo, de outro grande goleiro brasileiro, Dida. Recentemente, o goleiro do Milan foi tocado (de leve, bem de leve) no rosto por um torcedor do Celtic, em jogo da Copa dos Campeões, e desabou no chão como se tivesse sido esmurrado pelo Maguila --não antes de ter tentado correr atrás do "agressor", o que tornou a cena ainda mais patética.
É claro que não dá para julgar o Dida por uma atitude como essa, impensada, no calor do jogo. Mas dá para perceber qual é o padrão de atitude da maior parte dos jogadores hoje em dia, em contraste com a postura do Marcos.
O fato de o palmeirense ter chutado Malaquias logo em seguida é condenável, mas é necessário ressaltar que não dá nem mesmo para definir o ato como um chute de fato. Foi mais um "empurrão com o pé". Mas isso não impediu Malaquias, este sim, de levar as mãos dramaticamente ao rosto, como se tivesse sido atingido ali pelo goleiro --o que claramente não aconteceu.
No dia seguinte, em diversas entrevistas, Marcos reconheceu o erro de ter "partido para cima" do atacante, admitiu que não devia ter feito aquilo. Mas negou tentativa de agressão. Mesmo assim, provavelmente será julgado pelo STJD. Malaquias, não. Nem pela agressão e nem pela simulação.
Talvez o honesto seja mesmo o ingênuo. Talvez Marcos seja o último homem em pé
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