3 de jun. de 2007

Artigo escrito por Marina Bottega Michel


Surreal
escrito por Marina Bottega Michel, aluna de Midialogia - IA/UNICAMP

Gotas de chuva e sofás no asfalto: cena surreal, se descontextualizada. Tirei essa foto na manhã fria do dia 23 de maio - dia de Paralisação Nacional; e de susto para mim, ao perceber minha primeira greve de universitário que ali ganhava forma e força. Por susto, entenda-se “choque de coletivo”, de sacar “é, é pública sim!”.

O bonito (e possivelmente surreal) da foto é o que ela representa. Representa um coletivo que se manifesta, braços e mãos que se unem para erguer sofás e colocá-los na passagem como uma maneira de se fazer visto, para então se abrir a oportunidade de ser ouvido. Numa sociedade onde o indivíduo por ele mesmo, e só ele mesmo tem importância, no esquema “eu na minha e o resto que se dane”, é belíssimo constatar que ainda existe coletivo, que as pessoas vão para as ruas manifestar sua opinião e lutar por uma causa de todos, pública – mesmo sabendo que vai ter seu semestre totalmente atrasado e suas férias apagadas do calendário acadêmico.

Não concordo com barricada, ocupação nem nada disso; penso que antes de qualquer atitude, temos de refletir e discutir. Como o fazem os três garotos à direita da imagem; não ficaram sentados, levantaram-se muito cedo nesse dia terrivelmente frio (para quem está acostumado com o sol do interior paulista), e foram lá discutir o que se passa, e levar outros à discussão. Porque assim se realiza uma mudança sólida, com bases fortes: através do diálogo. Este, aliás, foi bastante evitado por nosso governador, José Serra. Numa tentativa de fugir da raia ou ignorar a responsabilidade pressuposta por seu cargo público ocupado por ele somente porque a maioria do povo assim quis, legitimamente. Agora, como fica a resposta a tanta democracia/ legitimidade exercida antes de ocupar o cargo?

A resposta não vem, quem dirá o diálogo. E não é por falta do povo se disponibilizar a conversar. Foram até lá, no Palácio; o que faltou? Chegar às cinco pra tomar o chá? Talvez a única forma mesmo de não fazer o movimento perder força seja ocupando a reitoria sem definir data para a saída. Afinal, outros caminhos mais sensatos foram recusados, ignorados de forma medíocre. Como se nada, NADA estivesse acontecendo. E a chuva cai, há sofás na rua, tudo por acaso?

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