"Cuba deixou de tentar ser Nova Iorque para ser, pelo menos, Cuba.
O Brasil quer ser Nova Iorque."
O Brasil quer ser Nova Iorque."
São raros os momentos em que as duas esferas do Brasil entram em uma conversa civilizada dentro de um espaço midiático tradicional. O programa Roda viva, da TV Cultura é um desses espaços, e dos bem reconhecidos. Nessa semana, o entrevistado foi Mano Brown, dos Racionais MC, que dispensa apresentações. Foi um programa interessante, tanto pelas ações dos entrevistadores quanto pelo entrevistado.
Criticidade
Mano Brown é uma voz crítica, antes de tudo. Crítico no sentido de conexão total com a sua realidade objetiva, na negação de tudo que poderia nublar sua visão sobre o seu entorno. Ele enxerga a sua história e as outras histórias ao seu redor a partir de seu próprio ponto de vista, dando peso e importância para elas, ao mesmo tempo em que é consciente de como é relativa a posição de onde ele enxerga. Ele é ele e a realidade é a realidade e ele carrega sempre em sua fala as marcas dessa realidade como ela é entendida e vivida por ele, Mano Brown.
Penso que não é razoável eu tentar aqui resumir as idéias faladas por ele na entrevista, porque elas com certeza perderiam muito da claridade e das distinções sutis que ele coloca. Creio que basta dizer que, ao meu ver, ele tem uma postura ferozmente radical sobre a sociedade brasileira. Radical no sentido primordial, de raíz, de encarar os fundamentos de tudo e de pensar na realidade objetiva (essa é a palavra-chave) das coisas, defendendo o princípio da "atitude", do ato, da ação, coletiva e voltada ao seu entorno. No contexto da radicalidade dessa posição, fica claro que seu falar tem que ser categórico, tem que recortar o mundo para poder agir sobre ele e também para entendê-lo. Mano Brown sabe que é necessário esclarecer as divisões fundamentais e estabelecer pontos básicos, de onde ele parte para a argumentação de suas posições.
Entrevistadores
Ficou claro também que a divisão entre os entrevistadores e o entrevistado não existia apenas como a divisão de papéis dentro do programa. Ali estavam presentes e marcadas no mínimo duas posições diferentes e conflitantes quanto à realidade nacional. Mano Brown fala de seu entorno, da periferia, da auto-organização das favelas, do caráter opressor das leis do país, do desconhecimento do resto da sociedade sobre a situação do pobre e do morador da favela, da diferença cultural entre o branco e o negro. Enquanto isso, os entrevistadores insistiram em perguntas sobre suas posições individuais, íntimas, quase emotivas; como diz Marilena Chauí, perguntar demais sobre o âmbito íntimo e familiar de uma pessoa diminui sua significância social e seu caráter de posição racional e é uma das rotinas mais comuns da grande mídia justamente por isso. O segundo bloco do Roda viva foi exatamente isso.
Em outros momentos, os entrevistadores tentaram armar arapucas sutis para que ele dissesse as polêmicas que queriam ouvir sobre o tráfico, sobre as drogas, armadilhas essas destinadas a dar munição a comentadores da grande mídia (vá ver o que o Reinaldo Azevedo escreveu sobre a entrevista) para acusar Mano Brown de infrator, de lulista, de fazer apologias. Penso que, como o próprio rapper falou, eles pegaram leve, afinal de contas, ele já está mais do que escolado para evitar armadilhas tão banais e ao mesmo tempo afirmar suas posições, sem fugir da responsabilidade e das possíveis polêmicas de dizer a verdade; esse modo de proceder dos entrevistadores revelou seu desconhecimento do entrevistado, além de seus medo e desprezo por ele, assim como a necessidade de servir ao establishment. Eles queriam alguma polêmica saindo dali, mas o rapper falou com tanta autoridade, fundamentada, ainda que rústica e simples, que qualquer um aberto a realmente ouvir o que ele estava dizendo entenderia a real natureza daquilo e não se perderia em tentativas de achar provas para algum tipo de condenação.
Criticidade
Mano Brown é uma voz crítica, antes de tudo. Crítico no sentido de conexão total com a sua realidade objetiva, na negação de tudo que poderia nublar sua visão sobre o seu entorno. Ele enxerga a sua história e as outras histórias ao seu redor a partir de seu próprio ponto de vista, dando peso e importância para elas, ao mesmo tempo em que é consciente de como é relativa a posição de onde ele enxerga. Ele é ele e a realidade é a realidade e ele carrega sempre em sua fala as marcas dessa realidade como ela é entendida e vivida por ele, Mano Brown.
Penso que não é razoável eu tentar aqui resumir as idéias faladas por ele na entrevista, porque elas com certeza perderiam muito da claridade e das distinções sutis que ele coloca. Creio que basta dizer que, ao meu ver, ele tem uma postura ferozmente radical sobre a sociedade brasileira. Radical no sentido primordial, de raíz, de encarar os fundamentos de tudo e de pensar na realidade objetiva (essa é a palavra-chave) das coisas, defendendo o princípio da "atitude", do ato, da ação, coletiva e voltada ao seu entorno. No contexto da radicalidade dessa posição, fica claro que seu falar tem que ser categórico, tem que recortar o mundo para poder agir sobre ele e também para entendê-lo. Mano Brown sabe que é necessário esclarecer as divisões fundamentais e estabelecer pontos básicos, de onde ele parte para a argumentação de suas posições.
Entrevistadores
Ficou claro também que a divisão entre os entrevistadores e o entrevistado não existia apenas como a divisão de papéis dentro do programa. Ali estavam presentes e marcadas no mínimo duas posições diferentes e conflitantes quanto à realidade nacional. Mano Brown fala de seu entorno, da periferia, da auto-organização das favelas, do caráter opressor das leis do país, do desconhecimento do resto da sociedade sobre a situação do pobre e do morador da favela, da diferença cultural entre o branco e o negro. Enquanto isso, os entrevistadores insistiram em perguntas sobre suas posições individuais, íntimas, quase emotivas; como diz Marilena Chauí, perguntar demais sobre o âmbito íntimo e familiar de uma pessoa diminui sua significância social e seu caráter de posição racional e é uma das rotinas mais comuns da grande mídia justamente por isso. O segundo bloco do Roda viva foi exatamente isso.
Em outros momentos, os entrevistadores tentaram armar arapucas sutis para que ele dissesse as polêmicas que queriam ouvir sobre o tráfico, sobre as drogas, armadilhas essas destinadas a dar munição a comentadores da grande mídia (vá ver o que o Reinaldo Azevedo escreveu sobre a entrevista) para acusar Mano Brown de infrator, de lulista, de fazer apologias. Penso que, como o próprio rapper falou, eles pegaram leve, afinal de contas, ele já está mais do que escolado para evitar armadilhas tão banais e ao mesmo tempo afirmar suas posições, sem fugir da responsabilidade e das possíveis polêmicas de dizer a verdade; esse modo de proceder dos entrevistadores revelou seu desconhecimento do entrevistado, além de seus medo e desprezo por ele, assim como a necessidade de servir ao establishment. Eles queriam alguma polêmica saindo dali, mas o rapper falou com tanta autoridade, fundamentada, ainda que rústica e simples, que qualquer um aberto a realmente ouvir o que ele estava dizendo entenderia a real natureza daquilo e não se perderia em tentativas de achar provas para algum tipo de condenação.
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Enric "Grama" Llagostera
Enric "Grama" Llagostera
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