Publicado originalmente na revista eletrônica Correio da Cidadania.
Escrito por Plínio de Arruda Sampaio Jr.
15-Jun-2007
Estudantes lutam em defesa da universidade pública
Escrito por Plínio de Arruda Sampaio Jr.
15-Jun-2007
A ocupação da reitoria da USP em repúdio ao ataque do governo de São Paulo à autonomia universitária e contra a progressiva degradação da qualidade do ensino surpreendeu pela ousadia e determinação dos estudantes que a lideraram. Lançando mão da "desobediência civil" como arma de pressão política, a ocupação conseguiu em poucos dias o que parecia impossível, depois de meses de tratativas e negociações infrutíferas.
O efeito arrebatador da ocupação sobre a consciência cívica da pacata comunidade universitária levou o governo estadual a recuar em suas intenções intervencionistas e forçou a reitora a acatar boa parte das demandas dos estudantes. Não se conseguiu tudo que se pretendia. A necessária unidade entre pesquisa e ensino, ameaçada pelas pressões das “empresas” interessadas em usufruir os polpudos recursos da Fapesp, permanece no limbo. Mesmo assim, as vitórias do movimento estudantil foram consideráveis.
Muito além das demandas específicas que detonaram o movimento, a ocupação da USP pôs a nu a crise da universidade brasileira. Tal como está, a universidade brasileira desagrada a todos.
Para os neoliberais, a universidade pública é um "luxo caro" que precisa justificar sua existência. Para tanto propõem subordiná-la às exigências do mercado. Por essa razão, ela vem sendo submetida a repetidas rodadas de ajustes fiscais e reformas liberalizantes.
Para quem imagina que a universidade pública é um patrimônio estratégico do povo brasileiro, sua capacidade de produzir conhecimento para o Brasil deve ser resgatada. Para tanto, ela precisa desesperadamente de recursos para sobreviver e, mais importante, carece de um projeto nacional que lhe dê sentido.
Ao colocar na agenda política nacional a defesa da Universidade Pública e a democratização de suas estruturas de poder, a ocupação da USP ganhou uma dimensão que extrapolou suas intenções iniciais, transformando-se numa espécie de bastião da luta em defesa da universidade pública, uma luta que tem uma história que se confunde com a própria afirmação do Brasil como sociedade nacional.
Para reprimir o despertar do movimento estudantil, as forças da ordem procuram caracterizar a ocupação da reitoria como um fenômeno artificial, dirigido por partidos de esquerda que manipulam a boa fé e a ingenuidade dos estudantes. É uma forma estúpida de ocultar a realidade.
Os estudantes que tomaram para si a responsabilidade que faltou a muitos são o produto de seu tempo: frustrados com o progressivo sucateamento das universidades públicas; indignados com o horizonte negativo que se lhes antepõe como futuro; profundamente descrentes na democracia do “mensalão” e das “navalhas”; desconfiados até mesmo em relação aos partidos de esquerda, que julgam conservadores e politiqueiros.
Goste-se ou não, o movimento é conduzido por estudantes generosos, dispostos ao sacrifício por uma causa coletiva, com muita coragem e pouca bagagem política, cansados da crise permanente da sociedade em que vivem e com muita pressa para resolver os graves problemas do Brasil. O forte eco de suas ações sobre o conjunto dos estudantes revela a grande efervescência e a enorme frustração latente nos universitários brasileiros.
Os estudantes que ocupam a reitoria da USP despertaram para a política. Logo aprenderão as duras lições da luta de classes numa sociedade intolerante com todo movimento que lança mão do conflito como forma legítima de conquista de direitos coletivos. Para os donos do poder, o conflito só é permitido, e com grande liberalidade, para a defesa do status quo.
É dever de todas as forças políticas comprometidas com a democracia evitar por todos os meios que os estudantes que se levantaram para defender a universidade pública sejam postos no pelourinho. Defender os estudantes que ocupam a reitoria da USP contra qualquer tipo de punição é defender a desobediência civil como forma legítima de luta quando todas as outras simplesmente não dão mais resultado.
Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP).
O efeito arrebatador da ocupação sobre a consciência cívica da pacata comunidade universitária levou o governo estadual a recuar em suas intenções intervencionistas e forçou a reitora a acatar boa parte das demandas dos estudantes. Não se conseguiu tudo que se pretendia. A necessária unidade entre pesquisa e ensino, ameaçada pelas pressões das “empresas” interessadas em usufruir os polpudos recursos da Fapesp, permanece no limbo. Mesmo assim, as vitórias do movimento estudantil foram consideráveis.
Muito além das demandas específicas que detonaram o movimento, a ocupação da USP pôs a nu a crise da universidade brasileira. Tal como está, a universidade brasileira desagrada a todos.
Para os neoliberais, a universidade pública é um "luxo caro" que precisa justificar sua existência. Para tanto propõem subordiná-la às exigências do mercado. Por essa razão, ela vem sendo submetida a repetidas rodadas de ajustes fiscais e reformas liberalizantes.
Para quem imagina que a universidade pública é um patrimônio estratégico do povo brasileiro, sua capacidade de produzir conhecimento para o Brasil deve ser resgatada. Para tanto, ela precisa desesperadamente de recursos para sobreviver e, mais importante, carece de um projeto nacional que lhe dê sentido.
Ao colocar na agenda política nacional a defesa da Universidade Pública e a democratização de suas estruturas de poder, a ocupação da USP ganhou uma dimensão que extrapolou suas intenções iniciais, transformando-se numa espécie de bastião da luta em defesa da universidade pública, uma luta que tem uma história que se confunde com a própria afirmação do Brasil como sociedade nacional.
Para reprimir o despertar do movimento estudantil, as forças da ordem procuram caracterizar a ocupação da reitoria como um fenômeno artificial, dirigido por partidos de esquerda que manipulam a boa fé e a ingenuidade dos estudantes. É uma forma estúpida de ocultar a realidade.
Os estudantes que tomaram para si a responsabilidade que faltou a muitos são o produto de seu tempo: frustrados com o progressivo sucateamento das universidades públicas; indignados com o horizonte negativo que se lhes antepõe como futuro; profundamente descrentes na democracia do “mensalão” e das “navalhas”; desconfiados até mesmo em relação aos partidos de esquerda, que julgam conservadores e politiqueiros.
Goste-se ou não, o movimento é conduzido por estudantes generosos, dispostos ao sacrifício por uma causa coletiva, com muita coragem e pouca bagagem política, cansados da crise permanente da sociedade em que vivem e com muita pressa para resolver os graves problemas do Brasil. O forte eco de suas ações sobre o conjunto dos estudantes revela a grande efervescência e a enorme frustração latente nos universitários brasileiros.
Os estudantes que ocupam a reitoria da USP despertaram para a política. Logo aprenderão as duras lições da luta de classes numa sociedade intolerante com todo movimento que lança mão do conflito como forma legítima de conquista de direitos coletivos. Para os donos do poder, o conflito só é permitido, e com grande liberalidade, para a defesa do status quo.
É dever de todas as forças políticas comprometidas com a democracia evitar por todos os meios que os estudantes que se levantaram para defender a universidade pública sejam postos no pelourinho. Defender os estudantes que ocupam a reitoria da USP contra qualquer tipo de punição é defender a desobediência civil como forma legítima de luta quando todas as outras simplesmente não dão mais resultado.
Plínio de Arruda Sampaio Jr. é professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP).
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