28 de out. de 2007

Análise da Veja "Brasileiros querem trabalhar mais"

Faz tempo que não se faz isso no blog, mas enfim decidi matar a saudade e pegar um trecho da Veja dessa semana para comentar. É a edição dessa semana, datada de 31 de outubro de 2007.
Lá pela página 49 surge um daqueles quadros tradicionais da Veja. É a sessão contexto.
O título é "Brasileiros querem trabalhar mais".
Reproduzirei os dados e o texto introdutório.
"A quantidade de trabalhadores que gostariam de esticar a jornada para ganhar mais cresceu 25% desde 2002. Hoje, já chega a 7,5% das pessoas ocupadas. Essa é uma tendência que se manifesta quando aumenta a confiança dos trabalhadores no crescimento da economia, e por isso, eles ambicionam ganhar mais.
Perfil de quem gostaria de trabalhar mais:
Renda mensal média: R$500,00.
Situação funcional: 70% não tem carteira assinada ou atuam no mercado informal.
Qualificação profissional: 45% só tem qualificação para trabalhos manuais.
Principais atividades: camelôs, cabeleireiros, mecânicos, operários.
Onde se concentram: Recife, Belo Horizonte, Salvador.
Fonte: "Um aspecto da subocupação por insuficiência de horas trabalhadas", de Danielle Machado/UFF e Ana Flávia Machado/UFMG."
Comento:
Não creio ser coerente a interpretação de que as pessoas querem trabalhar mais porque " aumenta a confiança dos trabalhadores no crescimento da economia, e por isso, eles ambicionam ganhar mais." Pegando esses R$500,00 de média mensal nota-se que o trabalhador ou trabalhadora quer dedicar mais horas de sua vida ao trabalho porque ganha pouco, porque obviamente não dá pra sustentar uma família com 500 reais.
Levando em conta que a maioria dessas pessoas ocupa o mercado informal -elas não tem emprego fixo - elas gostariam de mais demanda pra prestarem serviços (e por consequência ganharem mais), talvez isso que queiram dizer com trabalhar mais.
Enfim, temo sempre os argumentos - comuns na Veja - que explicam tudo por uma lógica economicista. Houve um editorial antigo, comentado aqui também, sobre crises econõmicas serem algo extremamente positivo não gerando pobreza mas sim novas oportunidades ao bom empreendedor. Na edição de hoje a idéia demonstrada é a desses trabalhadores quererem ganhar mais pois estão mais confiantes na estabilidade econômica e assim, imagino eu, estariam mais dispostos ao consumo.
Óbvio que não! O potencial de consumo de alguém com renda de 500 reais obviamente é bem baixo e esse cara só quer gastar mais tempo trabalhando porque com o que recebe é difícil de se sustentar.
Não entendi se os dados e o texto são das pesquisadores citadas como fonte ou se retiraram do trabalho delas apenas os dados, sendo assim tentarei durante essa semana etrar em contato de alguma maneira com elas e tentar obter um comentário sobre o assunto.
Abraços, cae

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