(Quando comecei a redigir esta carta, estávamos iniciando as reuniões e as assembléias que discutiam sobre a Greve, e mesmo estando ela já bem avançada e tendo havido alguns resultados favoráveis, creio que a carta ainda pode ser válida.)
Escrita por Luciana Holland, aluna do IA/UNICAMP
Carta
Uma considerável quantidade de estudantes (e neste momento, é aos estudantes em especial a quem direciono este diálogo) manifestou-se pré-disposta a discutir e a agir a respeito, especialmente, da “derrubada” dos decretos do governador José Serra, que ferem diretamente a Autonomia Universitária.
Em um contexto onde existem tantas opiniões e posicionamentos diferentes, ainda mais evidenciado pelo contexto universitário, que teoricamente é um espaço para reflexão, há de fato grande dificuldade em colocar seu posicionamento ou de situá-lo dentro de um grupo, ainda mais se for bastante divergente do da maioria presente. Esta dificuldade vemos em nossa reuniões e assembléias.
Neste momento, eu, como estudante, venho me manifestar a respeito desses posicionamentos, manifestar minha leitura da situação, e minha intenção e meu desejo, sem querer que isto seja muita pretensão de minha parte, é que contenha em si objeto suficiente para provocar um mínimo de reflexão.
Em um contexto onde existem tantas opiniões e posicionamentos diferentes, ainda mais evidenciado pelo contexto universitário, que teoricamente é um espaço para reflexão, há de fato grande dificuldade em colocar seu posicionamento ou de situá-lo dentro de um grupo, ainda mais se for bastante divergente do da maioria presente. Esta dificuldade vemos em nossa reuniões e assembléias.
Neste momento, eu, como estudante, venho me manifestar a respeito desses posicionamentos, manifestar minha leitura da situação, e minha intenção e meu desejo, sem querer que isto seja muita pretensão de minha parte, é que contenha em si objeto suficiente para provocar um mínimo de reflexão.
I
Ao nos depararmos com uma situação de conflito, como por exemplo rejeitar a imposição dos decretos do Governador, podemos observar diferentes tipos de reações. (1) Há os que se sentem impotentes diante da situação, tanto para compreendê-la quanto para agir. Essa sensação de impotência em ter que confrontar algo aparentemente tão maior que a si mesmo ou ao seu âmbito corriqueiro de atuação, pode levar uma pessoa a assumir a posição de descaso.
Expus essa situação desta maneira procurando um “olhar” para os estudantes que acabam não se manifestando acredito muito mais por não concordarem com o posicionamento dos estudantes “militantes”, e por não vislumbrarem ou criarem outras perspectivas de ação, que por serem totalmente indiferentes ao problema.
(2) Quando um estudante decide discutir a situação de conflito e agir, geralmente o espaço para isto é nas assembléias e reuniões. Historicamente, essas assembléias e reuniões são presididas por um grupo de estudantes que “chama” os outros para a reflexão e ação. Geralmente esse grupo de estudantes já tem uma posição bastante definida e que segue a diretriz de paralisação (greve) como ato de oposição, atitude e direito este conquistado sindicalmente pela classe dos trabalhadores.
Ora, a Greve, apesar de ter sido um instrumento de oposição eficiente e legítimo durante algum tempo, NÃO É O ÚNICO MEIO DE OPOSIÇÃO, e talvez nem mesmo o melhor, dependendo da situação.
Acontece que historicamente as manifestações de oposição se dão através de greves e paralisações, e a não ser que ou até que aconteça uma nova proposta que convença, a greve será o discurso de convencimento de ação de quem quer se opor.
O EXTREMAMENTE AGRAVANTE nesta “maneira” de se posicionar é a forma presunçosa destes discursos que agridem o estudante (podemos chamar de “não-militante”) que não quer parar!!!!! A agressão vem em panfletos e em falas que os estereotipa como “sem consciência” e também “egoístas” e “individualistas”.
Chamei a Greve de legítima em situações em que paralisar era algo praticamente inerente a situação, como por exemplo negar-se a trabalhar em condições subhumanas em uma fábrica e assim paralisar sua produção. Era e é um ato de respeito a si mesmo, e que prejudicava diretamente o dono da fábrica.
Acredito que tenho razões o suficiente para ver a Universidade em uma situação bastante diferente. (1) Em primeiro lugar, quando um aluno “faz greve”, ele quer atingir diretamente a quem? Será que o Governador se sente ou se percebe “prejudicado” quando um aluno do Instituto de Artes ou das Ciências Sociais se nega a ter aulas? Como “fato”, o aluno não ter aulas não o prejudica em nada. Mas pode-se a partir disso construir uma situação política que o afete, que em geral é a proposta da greve. (2) O aluno “de fato” sai prejudicado em não ter aulas e em não produzir- a não ser que ele já não se sentisse produzindo grandes coisas, mesmo não assumindo isto- mas o discurso em geral a favor da greve apela para que se aja visando ideais maiores.
(3) Como Universidade PÚBLICA, ela é PÚBLICA! Com isto quis dizer que, sendo financiada com dinheiro público, ela “pertence” “ao povo” diretamente.
Quando um funcionário, um docente ou um estudante exige aumento salarial ou infra-estrutura ao Reitor ou ao Governador, ele está exigindo coisas que não tem a ver com o dinheiro do governador ou do reitor em si.
E se o meu vizinho é da opinião de que os universitários custam muito caro ao governo, e além disso acha que professor universitário já ganha bem demais???
Se a opinião pública pôde estar tão desfavorável, é decorrente de uma total falta de aproximação e contato entre o povo e a produção acadêmica, distanciando as realidades e abrindo então espaço para que a opinião pública seja bastante facilmente direcionada pela mídia, já que não há outra referência forte o suficiente para provocar uma condição em que a pessoa seja compelida a tomar uma forte decisão.
Como (apenas teoricamente) os governadores eleitos são os que “representam os interesses do povo”, tem sido enfoque dirigir as reivindicações a estas entidades. Não faz sentido trabalhar tanto nesta direção, uma vez que já é constatação geral que os políticos atendem em primeira instância seus próprios interesses e interesses dos que financiaram sua campanha política, como de fato estamos observando que não é de interesse do governo ter Universidades Autônomas.
Acredito como Fato- que nessas circunstâncias não comporta nenhuma objeção- que uma Instância que é gerenciada com recursos públicos deve concentrar sua atenção e atuação junto ao povo. Isto significa colocá-la a par da situação e compartilhar dos benefícios da produção acadêmica. Decidir sobre o direcionamento dos recursos públicos é algo que não poderia ser feito sem essa aprovação, como também é imprescindível que neste caso a sociedade veja a Universidade Autônoma como algo benéfico para si mesma.
Ao nos depararmos com uma situação de conflito, como por exemplo rejeitar a imposição dos decretos do Governador, podemos observar diferentes tipos de reações. (1) Há os que se sentem impotentes diante da situação, tanto para compreendê-la quanto para agir. Essa sensação de impotência em ter que confrontar algo aparentemente tão maior que a si mesmo ou ao seu âmbito corriqueiro de atuação, pode levar uma pessoa a assumir a posição de descaso.
Expus essa situação desta maneira procurando um “olhar” para os estudantes que acabam não se manifestando acredito muito mais por não concordarem com o posicionamento dos estudantes “militantes”, e por não vislumbrarem ou criarem outras perspectivas de ação, que por serem totalmente indiferentes ao problema.
(2) Quando um estudante decide discutir a situação de conflito e agir, geralmente o espaço para isto é nas assembléias e reuniões. Historicamente, essas assembléias e reuniões são presididas por um grupo de estudantes que “chama” os outros para a reflexão e ação. Geralmente esse grupo de estudantes já tem uma posição bastante definida e que segue a diretriz de paralisação (greve) como ato de oposição, atitude e direito este conquistado sindicalmente pela classe dos trabalhadores.
Ora, a Greve, apesar de ter sido um instrumento de oposição eficiente e legítimo durante algum tempo, NÃO É O ÚNICO MEIO DE OPOSIÇÃO, e talvez nem mesmo o melhor, dependendo da situação.
Acontece que historicamente as manifestações de oposição se dão através de greves e paralisações, e a não ser que ou até que aconteça uma nova proposta que convença, a greve será o discurso de convencimento de ação de quem quer se opor.
O EXTREMAMENTE AGRAVANTE nesta “maneira” de se posicionar é a forma presunçosa destes discursos que agridem o estudante (podemos chamar de “não-militante”) que não quer parar!!!!! A agressão vem em panfletos e em falas que os estereotipa como “sem consciência” e também “egoístas” e “individualistas”.
Chamei a Greve de legítima em situações em que paralisar era algo praticamente inerente a situação, como por exemplo negar-se a trabalhar em condições subhumanas em uma fábrica e assim paralisar sua produção. Era e é um ato de respeito a si mesmo, e que prejudicava diretamente o dono da fábrica.
Acredito que tenho razões o suficiente para ver a Universidade em uma situação bastante diferente. (1) Em primeiro lugar, quando um aluno “faz greve”, ele quer atingir diretamente a quem? Será que o Governador se sente ou se percebe “prejudicado” quando um aluno do Instituto de Artes ou das Ciências Sociais se nega a ter aulas? Como “fato”, o aluno não ter aulas não o prejudica em nada. Mas pode-se a partir disso construir uma situação política que o afete, que em geral é a proposta da greve. (2) O aluno “de fato” sai prejudicado em não ter aulas e em não produzir- a não ser que ele já não se sentisse produzindo grandes coisas, mesmo não assumindo isto- mas o discurso em geral a favor da greve apela para que se aja visando ideais maiores.
(3) Como Universidade PÚBLICA, ela é PÚBLICA! Com isto quis dizer que, sendo financiada com dinheiro público, ela “pertence” “ao povo” diretamente.
Quando um funcionário, um docente ou um estudante exige aumento salarial ou infra-estrutura ao Reitor ou ao Governador, ele está exigindo coisas que não tem a ver com o dinheiro do governador ou do reitor em si.
E se o meu vizinho é da opinião de que os universitários custam muito caro ao governo, e além disso acha que professor universitário já ganha bem demais???
Se a opinião pública pôde estar tão desfavorável, é decorrente de uma total falta de aproximação e contato entre o povo e a produção acadêmica, distanciando as realidades e abrindo então espaço para que a opinião pública seja bastante facilmente direcionada pela mídia, já que não há outra referência forte o suficiente para provocar uma condição em que a pessoa seja compelida a tomar uma forte decisão.
Como (apenas teoricamente) os governadores eleitos são os que “representam os interesses do povo”, tem sido enfoque dirigir as reivindicações a estas entidades. Não faz sentido trabalhar tanto nesta direção, uma vez que já é constatação geral que os políticos atendem em primeira instância seus próprios interesses e interesses dos que financiaram sua campanha política, como de fato estamos observando que não é de interesse do governo ter Universidades Autônomas.
Acredito como Fato- que nessas circunstâncias não comporta nenhuma objeção- que uma Instância que é gerenciada com recursos públicos deve concentrar sua atenção e atuação junto ao povo. Isto significa colocá-la a par da situação e compartilhar dos benefícios da produção acadêmica. Decidir sobre o direcionamento dos recursos públicos é algo que não poderia ser feito sem essa aprovação, como também é imprescindível que neste caso a sociedade veja a Universidade Autônoma como algo benéfico para si mesma.
II. SOBRE AS ATITUDES DE OPOSIÇÃO
Ou seja, que vem daí um tipo de atitude que vem a ser completamente o oposto da paralisação. Porque, quando você deseja convencer alguém de que o seu trabalho merece mais atenção, ou outra atenção e/ou assistência financeira, você “age” nesse sentido, com atitudes positivas. Ou seja, há ainda mais trabalho- porque se acrescenta o esforço e a intenção de convencimento do mérito de tuas reivindicações.
Dizer: “se você não fizer o que eu estou exigindo eu não saio daqui, e não paro de gritar, etc...” pode ser uma postura extremamente infantil, que na maioria das vezes quando dá algum resultado é mais pela irritabilidade gerada pela situação que pelo real convencimento.
Em termos práticos, quando em uma situação de conflito decidimos agir em oposição, acredito que esta atitude deve ser positiva e direcionada ao povo. E não deveria evocar nomes como “paralisação” ou “greve”, mesmo que se tente “consertar” ou “melhorar” o significado usando adjetivos como “movimentos” de “paralisação”.
Ou seja, que vem daí um tipo de atitude que vem a ser completamente o oposto da paralisação. Porque, quando você deseja convencer alguém de que o seu trabalho merece mais atenção, ou outra atenção e/ou assistência financeira, você “age” nesse sentido, com atitudes positivas. Ou seja, há ainda mais trabalho- porque se acrescenta o esforço e a intenção de convencimento do mérito de tuas reivindicações.
Dizer: “se você não fizer o que eu estou exigindo eu não saio daqui, e não paro de gritar, etc...” pode ser uma postura extremamente infantil, que na maioria das vezes quando dá algum resultado é mais pela irritabilidade gerada pela situação que pelo real convencimento.
Em termos práticos, quando em uma situação de conflito decidimos agir em oposição, acredito que esta atitude deve ser positiva e direcionada ao povo. E não deveria evocar nomes como “paralisação” ou “greve”, mesmo que se tente “consertar” ou “melhorar” o significado usando adjetivos como “movimentos” de “paralisação”.
III. QUESTÕES:
1. Será que não dá para perceber o quanto é extremamente agressiva a postura do estudante que tenta impedir, com o respaldo de uma assembléia democrática, que o outro aluno entre em sala e produza???
Por quanto tempo uma atitude de tamanha ignorância (interferir na liberdade do outro) terá esse “respaldo democrático” que acaba legitimando uma situação que deixa uma minoria sufocada sem saber o que fazer para repudiar a situação???
Na minha opinião, o dia da perdição será aquele em que os alunos da “área das humanas” ocupem o espaço dos da “área das exatas” e os convençam de que “é preciso parar”.
O contexto de paralisação de um funcionário e de um aluno é muito diferente e não dá para fingir que não é e agir como se não fosse. O que vemos é um grupo de alunos “politizados” reproduzindo discursos de operários e de sindicalistas sem um mínimo de reflexão, e pressionando outros alunos sem tanto poder discursivo ou sem força de ação a aderir ao movimento de greve. Mas de imediato vemos uma situação bem clara de que existem alunos e professores que não querem parar, e que isso não significa absolutamente não querer se opor.
(2) O fato de termos um ato no dia 31/05 não impede que os demais dias sejam utilizados com produção acadêmica. O que quis dizer foi que esse tempo que se diz estar utilizando para discussões e assembléias dificilmente são produtivos sob o ponto de vista de “fatos” e “decisões”. Não seriam necessárias muitas reuniões para decidir e organizar um ato em São Paulo; acontece que nas assembléias discute-se mais sobre A Greve do que sobre a solução do problema em si. A constatação e decisão de que é PRECISO FAZER UM ATO, é diferente que a constatação e decisão de que É PRECISO FAZER GREVE. Em uma assembléia de docentes o que deveria ser votado é se o espaço das aulas poderá ser utilizado para discussão dos problemas. Caso realizar um movimento de oposição fosse votado pela maioria em assembléia, tanto dos docentes como dos estudantes, então o espaço das aulas seria utilizado para discussão, com o enfoque da produção acadêmica voltado também para a construção de amostras acadêmicas, pois parte desses atos é justamente levar a produção acadêmica à sociedade. Então, em vias de fato, eu estaria freqüentando regularmente minhas aulas de cravo, e nelas estaríamos construindo e organizando nossos atos; estaria freqüentando as aulas de Escola e Cultura, e nela estaríamos também construindo e elaborando nossa atuação. Quando fossem marcadas assembléias, os alunos e docentes estariam dispensados das aulas- a “presença” seria na assembléia.
É claro que este modelo não é fechado e tampouco apresenta a maturidade das experiências, e que deve comportar em si as muitas e variadas dissonâncias dos comportamentos humanos - mas ele segue outra linha de atuação, e outro tipo de postura, que, comparando com o atual, considero mais positivo, além de mais consciente no sentido de assumir e de preservar para si e dentro de si um bem maior que é o valor de sua própria existência fundamentado em sua produção, e abandonar uma antiga postura de obrigar a ser ouvido por meio de força retaliativa- de chantagem- “se você não fizer o que eu estou mandando eu não dou aula, não estudo, não trabalho, e aliás também não canto, não danço e não toco, e não leio nada, não faço uma conta matemática sequer, e aliás se bobear até comer não como mais, e daqui a pouco não respiro- morro por vocês!!!....Por uma causa maior!!!”
Neste contexto estaríamos muito mais próximos de atingir a consciência de que o governo só pôde tomar atitudes tão hipócritas com o aval de nosso voto; e suas decisões estão praticamente legitimadas por estes votos. A consciência da existência de uma campanha para que não haja votos nulos; e que ninguém deveria ser levado a eleger levando em conta o seguinte e profundo tipo de reflexão: “O que faz menos mal ou fede menos: bosta de vaca ou de galinha????”
O que realmente acontece nas entrelinhas para que a sociedade se mostre fortemente manipulada, ela mesmo elegendo e assim autorizando a construção de uma sociedade baseada principalmente em hipocrisia (eu finjo que não estou fazendo nada de errado, e você finge que não percebe)- (porque caso você assumisse que percebe, não teria força o suficiente para agir contra, mesmo.)
De onde vem esse medo e esse controle tão fortemente encoberto dentro de nossa sociedade?
Então, neste momento em que um grupo relativamente grande de pessoas está agindo ou tentando agir, o âmbito que essas atuações irão cobrir vai depender da percepção e da consciência dessas pessoas que estão construindo o movimento.
1. Será que não dá para perceber o quanto é extremamente agressiva a postura do estudante que tenta impedir, com o respaldo de uma assembléia democrática, que o outro aluno entre em sala e produza???
Por quanto tempo uma atitude de tamanha ignorância (interferir na liberdade do outro) terá esse “respaldo democrático” que acaba legitimando uma situação que deixa uma minoria sufocada sem saber o que fazer para repudiar a situação???
Na minha opinião, o dia da perdição será aquele em que os alunos da “área das humanas” ocupem o espaço dos da “área das exatas” e os convençam de que “é preciso parar”.
O contexto de paralisação de um funcionário e de um aluno é muito diferente e não dá para fingir que não é e agir como se não fosse. O que vemos é um grupo de alunos “politizados” reproduzindo discursos de operários e de sindicalistas sem um mínimo de reflexão, e pressionando outros alunos sem tanto poder discursivo ou sem força de ação a aderir ao movimento de greve. Mas de imediato vemos uma situação bem clara de que existem alunos e professores que não querem parar, e que isso não significa absolutamente não querer se opor.
(2) O fato de termos um ato no dia 31/05 não impede que os demais dias sejam utilizados com produção acadêmica. O que quis dizer foi que esse tempo que se diz estar utilizando para discussões e assembléias dificilmente são produtivos sob o ponto de vista de “fatos” e “decisões”. Não seriam necessárias muitas reuniões para decidir e organizar um ato em São Paulo; acontece que nas assembléias discute-se mais sobre A Greve do que sobre a solução do problema em si. A constatação e decisão de que é PRECISO FAZER UM ATO, é diferente que a constatação e decisão de que É PRECISO FAZER GREVE. Em uma assembléia de docentes o que deveria ser votado é se o espaço das aulas poderá ser utilizado para discussão dos problemas. Caso realizar um movimento de oposição fosse votado pela maioria em assembléia, tanto dos docentes como dos estudantes, então o espaço das aulas seria utilizado para discussão, com o enfoque da produção acadêmica voltado também para a construção de amostras acadêmicas, pois parte desses atos é justamente levar a produção acadêmica à sociedade. Então, em vias de fato, eu estaria freqüentando regularmente minhas aulas de cravo, e nelas estaríamos construindo e organizando nossos atos; estaria freqüentando as aulas de Escola e Cultura, e nela estaríamos também construindo e elaborando nossa atuação. Quando fossem marcadas assembléias, os alunos e docentes estariam dispensados das aulas- a “presença” seria na assembléia.
É claro que este modelo não é fechado e tampouco apresenta a maturidade das experiências, e que deve comportar em si as muitas e variadas dissonâncias dos comportamentos humanos - mas ele segue outra linha de atuação, e outro tipo de postura, que, comparando com o atual, considero mais positivo, além de mais consciente no sentido de assumir e de preservar para si e dentro de si um bem maior que é o valor de sua própria existência fundamentado em sua produção, e abandonar uma antiga postura de obrigar a ser ouvido por meio de força retaliativa- de chantagem- “se você não fizer o que eu estou mandando eu não dou aula, não estudo, não trabalho, e aliás também não canto, não danço e não toco, e não leio nada, não faço uma conta matemática sequer, e aliás se bobear até comer não como mais, e daqui a pouco não respiro- morro por vocês!!!....Por uma causa maior!!!”
Neste contexto estaríamos muito mais próximos de atingir a consciência de que o governo só pôde tomar atitudes tão hipócritas com o aval de nosso voto; e suas decisões estão praticamente legitimadas por estes votos. A consciência da existência de uma campanha para que não haja votos nulos; e que ninguém deveria ser levado a eleger levando em conta o seguinte e profundo tipo de reflexão: “O que faz menos mal ou fede menos: bosta de vaca ou de galinha????”
O que realmente acontece nas entrelinhas para que a sociedade se mostre fortemente manipulada, ela mesmo elegendo e assim autorizando a construção de uma sociedade baseada principalmente em hipocrisia (eu finjo que não estou fazendo nada de errado, e você finge que não percebe)- (porque caso você assumisse que percebe, não teria força o suficiente para agir contra, mesmo.)
De onde vem esse medo e esse controle tão fortemente encoberto dentro de nossa sociedade?
Então, neste momento em que um grupo relativamente grande de pessoas está agindo ou tentando agir, o âmbito que essas atuações irão cobrir vai depender da percepção e da consciência dessas pessoas que estão construindo o movimento.
IV. AS PROPOSTAS:
Que é muito mais positivo, ao invés de impedir a produção em prol de um movimento de oposição, que as intensifique e as desloquem para locais estratégicos dentro da sociedade. (2) Por exemplo uma apresentação de um Recital, de um Concerto Sinfônico, de uma palestra, etc..., onde poderiam ser distribuídos panfletos explicativos sobre os decretos e sua interferência na autonomia das universidades. Assim a população se aproximaria do problema e também usufruiria da produção acadêmica.
Dá para perceber que isso é muito mais positivo que estudantes impedindo o deslocamento de veículos (me refiro a atitudes como impedir a entrada de veículos dentro do campus universitário, como fizeram alguns estudantes da Unicamp. Isto é diferente de um ato público que caminha em direção a Assembléia Legislativa) e o direito irrevogável de ir e vir de todos os seres humanos, com o argumento evidentemente dogmático de que “é a única maneira de conseguirmos a visibilidade que estamos precisando para resolver o problema” (4) Ora, é mais do que óbvio que estão criando outros tantos e ouvindo (ou não ouvindo) as injúrias de quem está se sentido altamente prejudicado (“Estudantes filhos da puta, vão se foder, sai do meu caminho que eu preciso trabalhar!” e por incrível que pareça um estudante pode ainda devolver: “Mas nós estamos lutando por uma causa maior, inclusive creche.”) (5) O que foi ferido com este tipo de atitude, mais que a necessidade que ele tinha de trabalhar, foi sua vontade e sua liberdade para fazer tal coisa. A liberdade é um direito tão irrevogável do ser humano, que apenas aos criminosos foi retirada. Quando um indivíduo tenta tirar a liberdade do outro, ele com certeza está construindo um inimigo, pois existem poucas coisas que podem ferir tanto a integridade do ser humano como tirar-lhe a liberdade. E a não ser que ele esteja extremamente coagido e fraco, irá lutar por ela.
(6) Para mim vê-se claramente que os estudantes que querem impor a paralisação pecam justamente no mesmo item em que acusam o governo.
V. ATOS DE OPOSIÇÃO/ORGANIZAÇÃO
PROPOSTAS
(1) 12 E 13/06: BOOM SOCIAL DE AMOSTRAS ACADÊMICAS: dias em que alunos e professores organizarão amostras de sua produção acadêmica em locais estratégicos da sociedade. O objetivo não é fazer “apresentações temáticas” da greve, (essa proposta foi levantada em assembléia), como fazíamos na escola um “desenho sobre o Dia do Índio”, “desenho sobre o Dia do Soldado”, em sim uma oportunidade para que outras pessoas usufruam da produção universitária e se aproximem do problema em um contexto positivo.
(1.1) Acredito que a possibilidade de organizar um evento assim só se faz com alunos e professores dentro de salas de aulas, dialogando sobre o problema. De maneira alguma esvaziar as salas é solução; ao contrário, é agir contra si mesmo e esvaziar sua própria força de ação. “Fazer com que” os professores e os alunos discutam isso em sala é melhor do que “fazer com que” os professores e os alunos abandonem as salas.
(2) Fazer um parecer jurídico que prove a inconstitucionalidade dos Decretos.
(3) Presença massiva de alunos, professores e funcionários em frente à Assembléia Legislativa de São Paulo no dia da entrega do parecer jurídico. Neste dia também poderemos organizar um novo “Boom” de amostras acadêmicas em São Paulo.
(4) Na medida do possível unificar essas ações com a USP e UNESPs.
Que é muito mais positivo, ao invés de impedir a produção em prol de um movimento de oposição, que as intensifique e as desloquem para locais estratégicos dentro da sociedade. (2) Por exemplo uma apresentação de um Recital, de um Concerto Sinfônico, de uma palestra, etc..., onde poderiam ser distribuídos panfletos explicativos sobre os decretos e sua interferência na autonomia das universidades. Assim a população se aproximaria do problema e também usufruiria da produção acadêmica.
Dá para perceber que isso é muito mais positivo que estudantes impedindo o deslocamento de veículos (me refiro a atitudes como impedir a entrada de veículos dentro do campus universitário, como fizeram alguns estudantes da Unicamp. Isto é diferente de um ato público que caminha em direção a Assembléia Legislativa) e o direito irrevogável de ir e vir de todos os seres humanos, com o argumento evidentemente dogmático de que “é a única maneira de conseguirmos a visibilidade que estamos precisando para resolver o problema” (4) Ora, é mais do que óbvio que estão criando outros tantos e ouvindo (ou não ouvindo) as injúrias de quem está se sentido altamente prejudicado (“Estudantes filhos da puta, vão se foder, sai do meu caminho que eu preciso trabalhar!” e por incrível que pareça um estudante pode ainda devolver: “Mas nós estamos lutando por uma causa maior, inclusive creche.”) (5) O que foi ferido com este tipo de atitude, mais que a necessidade que ele tinha de trabalhar, foi sua vontade e sua liberdade para fazer tal coisa. A liberdade é um direito tão irrevogável do ser humano, que apenas aos criminosos foi retirada. Quando um indivíduo tenta tirar a liberdade do outro, ele com certeza está construindo um inimigo, pois existem poucas coisas que podem ferir tanto a integridade do ser humano como tirar-lhe a liberdade. E a não ser que ele esteja extremamente coagido e fraco, irá lutar por ela.
(6) Para mim vê-se claramente que os estudantes que querem impor a paralisação pecam justamente no mesmo item em que acusam o governo.
V. ATOS DE OPOSIÇÃO/ORGANIZAÇÃO
PROPOSTAS
(1) 12 E 13/06: BOOM SOCIAL DE AMOSTRAS ACADÊMICAS: dias em que alunos e professores organizarão amostras de sua produção acadêmica em locais estratégicos da sociedade. O objetivo não é fazer “apresentações temáticas” da greve, (essa proposta foi levantada em assembléia), como fazíamos na escola um “desenho sobre o Dia do Índio”, “desenho sobre o Dia do Soldado”, em sim uma oportunidade para que outras pessoas usufruam da produção universitária e se aproximem do problema em um contexto positivo.
(1.1) Acredito que a possibilidade de organizar um evento assim só se faz com alunos e professores dentro de salas de aulas, dialogando sobre o problema. De maneira alguma esvaziar as salas é solução; ao contrário, é agir contra si mesmo e esvaziar sua própria força de ação. “Fazer com que” os professores e os alunos discutam isso em sala é melhor do que “fazer com que” os professores e os alunos abandonem as salas.
(2) Fazer um parecer jurídico que prove a inconstitucionalidade dos Decretos.
(3) Presença massiva de alunos, professores e funcionários em frente à Assembléia Legislativa de São Paulo no dia da entrega do parecer jurídico. Neste dia também poderemos organizar um novo “Boom” de amostras acadêmicas em São Paulo.
(4) Na medida do possível unificar essas ações com a USP e UNESPs.
VI. CONCLUSÕES
Se temos observado que os resultados obtidos com a greve são irrisórios (com prejuízo acadêmico e uma quantidade de reivindicações atendidas irrisórias) é óbvio que devemos continuar fazendo greve. Sempre, sempre, sempre, todo ano, todo ano, todo ano. É tão óbvio.
O erro está em tentar se convencer de que o problema foi “a maneira” como a greve foi feita, e não questionar nem assumir que é preciso outro tipo de atuação. O agravante nesta maneira de pensar é que eles “culpam” os “individualistas” que não quiseram aderir ao movimento pela greve não ter “dado certo”, ou paradoxalmente gabam-se dos mesmos resultados como se fossem grandes e efetivas conquistas1.
A quem lucre com a greve (vai gastar bem menos energia elétrica, os alunos vão ficar “brigando” sem tomar atitudes efetivas, etc, e as atitudes que tomam muitas vezes os desfavorecem frente à opinião pública) Acho válido refletir sobre o princípio de que sempre há um terceiro se beneficiando do conflito criado entre dois (como por exemplo uma mesma empresa que financia campanhas políticas opostas).
Isso não significa que, caso haja grande adesão à greve por parte de alunos, funcionários e professores, que não tenhamos um resultado favorável ao final- a revogação dos Decretos ou de parte deles-; e sim a custa de que conseguiremos isto, e que o resultado pode ser ainda mais positivo caso tenhamos outros tipos de postura- a começar por não ser opressor dentro de seu próprio meio.
Acredito que estamos construindo um momento de movimento político importante; que nos esforcemos para agir segundo nossa ética e ao mesmo tempo nossa constante auto-crítica.
Se temos observado que os resultados obtidos com a greve são irrisórios (com prejuízo acadêmico e uma quantidade de reivindicações atendidas irrisórias) é óbvio que devemos continuar fazendo greve. Sempre, sempre, sempre, todo ano, todo ano, todo ano. É tão óbvio.
O erro está em tentar se convencer de que o problema foi “a maneira” como a greve foi feita, e não questionar nem assumir que é preciso outro tipo de atuação. O agravante nesta maneira de pensar é que eles “culpam” os “individualistas” que não quiseram aderir ao movimento pela greve não ter “dado certo”, ou paradoxalmente gabam-se dos mesmos resultados como se fossem grandes e efetivas conquistas1.
A quem lucre com a greve (vai gastar bem menos energia elétrica, os alunos vão ficar “brigando” sem tomar atitudes efetivas, etc, e as atitudes que tomam muitas vezes os desfavorecem frente à opinião pública) Acho válido refletir sobre o princípio de que sempre há um terceiro se beneficiando do conflito criado entre dois (como por exemplo uma mesma empresa que financia campanhas políticas opostas).
Isso não significa que, caso haja grande adesão à greve por parte de alunos, funcionários e professores, que não tenhamos um resultado favorável ao final- a revogação dos Decretos ou de parte deles-; e sim a custa de que conseguiremos isto, e que o resultado pode ser ainda mais positivo caso tenhamos outros tipos de postura- a começar por não ser opressor dentro de seu próprio meio.
Acredito que estamos construindo um momento de movimento político importante; que nos esforcemos para agir segundo nossa ética e ao mesmo tempo nossa constante auto-crítica.
Luciana Holland Santos
Campinas, 05 de junho de 2007
Campinas, 05 de junho de 2007
4 comentários:
Acredito que uma pessoa que vote contra a greve, mas que se mantenha interada do assunto e realizando açôes que à sua maneira atingirâo a sociedade e podem ser valorozas para alcançarmos o objetivo( no caso, o fim dos decretos) não é ser egoísta. Egoísta, para mim, é aquele que não quer saber ou agir porque tem mais o que fazer. Acredito, também, que a união faz a força e que a decisão da assembléia deve ser acatada com respeito pelas pessoas contrarias a ela ou agir para que os outros vejam as coisas de outra forma.
Quanto à greve, não vejo outra forma de conseguir me organizar sem ela, visto que estamos( ou, pelo menos, estávamos) no fim do semestre e a carga horaria da dança( meu curso) é grande e a quantidade de trabalhos era imensa, não sobrando tempo para eu me organizar ou me dedicar à ações que ajudassem na revogação dos decretos( meu objetivo).
Parabens!Vc realmente 'e uma pessoa informada...a unica que percebi que parou e refletiu sobre a greve...concordo com tudo que vc disse e ainda gostaria de acrescentar mais...quem aki tem 1.500 reias para dar todo mes numa faculdade paga?(preco do curso de enfermagem)Meu curso esta brigando pela contratacao de professores...pelo q eu sei naum falta professores na enfermagem e sim professores de qualidade...ahhh...vc acha q alguma empresa vai querer contratar um povo q so faz greve e naum estuda?...acho q agora seria hora da gnt mostrar q enquanto alguns ficam la fazendo greve..outros ficam estudando...e se analisarmos todos os pontos positivos e negativos da greve..'e logico q teremos mt mais negativos do q positivos...pq naum tentar de outra forma?...nos da area da saude podemos utilizar a feira da saude para colocar os nossos problemas...bom...se deixar fico aki escrevendo...
Oi Carol (da dança)
Vc disse sobre o egoísmo: "aquele que não quer nem saber". Até agora todos os alunos com quem conversei mostraram "interesse" pelo assunto. A melhor discussão que tive sobre o assunto foi quando minha professora voltou a dar as aulas e, como estávamos "furando greve", ficamos conversando sobre o assunto. Aquela conversa foi mais produtiva que todas as assémbléias de que participei até agora, inclusive com as colocações desses "alunos egoístas" que não participam da assembléia e nem fazem nada a respeito.
Veja, colocar uma posição muito diferente da corrente, como ser contra a greve, pode ser extremamente desgastante e difícil caso a argumentação não esteja com a maturidade necessária. Vc tem razão quando diz que a união faz a força, e pense na força que precisaria ter um argumento contrário ao da maioria da assembléia.
Leve em conta que muitos dos que não vão a assembléia não é por estarem desinteressados pelo assunto, mas é por que na fala deles, são coagidos, como vcs fazem com os professores vaiando-os quando eles votam contrários a posição dos estudantes: ou quando vcs aplaudem apenas os professores que votaram pela continuidade da greve e mantém um silêncio constrangedor aos que se colocam contra. Imagine um tipo de atitude assim com seus próprios colegas. A assembléia acaba não sendo um espaço em que as pessoas se sentem a vontade para se posicionar.
Quanto a respeitar as decisões da assembléia, acho que é preciso estar sempre melhorando e amadurecendo seus próprios argumentos: por isso decidi escrever essa carta, já que na assembléia não consegui falar disso tudo. Quanto a decisão da maioria, eu sinto muito, mas não é por que uma maioria toma decisões que eu não considero boas, que eu farei a mesma coisa. Parece até uma tirania da maioria :-)
Sobre o tempo para se organizar, eu já vi colegas organizarem um festival no meio do período letivo.
Vcs não estão organizando um ato, vcs estão organizando uma greve e tentando mantê-la, por isso da tanto trabalho.
O que eu e meus colegas- e professores- planejamos não implicará de maneira alguma absolutamente que não assumiremos nossas responsabilidades acadêmicas.
Bom, obrigada por vc ler e deixar sua posição... Obrigada mesmo
Luciana
Oi, Carol! (enfermagem)
Eu também até agora não consigo aceitar os argumentos que justificam uma atitude tão insólita como greve de aluno. A universidade é pública e eles fazem greve "para" o Reitor ou para o Governador, que não tem nada a ver com o que é gasto aqui (não sai do bolso deles). Por isso eu também considero uma falta de respeito com o dinheiro público. Acho que uma coisa como greve deveria ser o ÚLTIMO recurso, e não logo de cara a primeira proposta.
Mas, de qualquer maneira, quem "começou" a fazer alguma coisa foram eles (os alunos que 'chamam' para as assembléias), e cabe também a nós amadurecermos e assim darmos "força/confiança" para posturas diferentes, sendo consideradas melhores.
Também acho que uma feira da saúde seria ótimo!
Um abraço, e muito obrigada por ler e responder!
Luciana
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