30 de mai. de 2007

artigo do professor Fernando de Tacca


Fernando de Tacca é fotografo e professor do departamento de multimeios do IA - UNICAMP e a foto acima é de Vivi Zanata.

Um atirador aprendiz?
Quando a imagem muda de lugar.
Não imaginava o governador José Serra, talvez entusiasmado com a demonstração de força da polícia militar em exercício(nesse caso felizmente sem mortos e feridos), ou ainda entusiasmado com o poder recém adquirido, que sua pose de atirador de elite tivesse uma migração de significados.
Em quem Serra mira? Uma pergunta que fica implícita. No fotógrafo, poderíamos entender como a primeira realidade, como diz Kossoy, mas quando a imagem sai do campo situacional e entra em circulação, somos nós a quem o fuzil aponta, nós leitores e cidadãos. É uma cena para Michael Moore!
Como pode o governador do Estado mais importante do país assumir uma postura agressiva e incômoda como essa, e ainda mais um personagem da história recente de nossa ex-esquerda. Seria ele ingênuo para apontar uma arma direto para os fotógrafos, que também o miravam com suas câmeras? Arma contra arma, uma talvez estivesse descarregada, felizmente ele não a testou, as outras tinham muitas balas imagéticas digitais. As lógicas da arma e da câmera são muito similares, uma gestualidade técnica contaminada pela busca/caça e pelo olhar/oportunismo. Algumas cenas reais como essa foram registradas por produtores de imagens, fotógrafos e cineastas, alguns morreram em ação e deixaram a imagem da arma apontada para suas câmeras como último olhar.
Quando vi a imagem pela primeira vez, sem dúvidas imediatamente pensei que seria deslocada e ressignificada, e não deu outra, e muito rápido a sociedade midiatizada lhe deu outro lugar. Ele aparece na entrada da ocupação da reitoria, e não só. Duas fotos, uma noturna e outra diurna, foram publicadas respectivamente pela Folha online e no portal do Estadão, e com quase o mesmo ponto de vista, com diferença muito sutil. Os fotógrafos são sincrônicos nesses casos, percebem imediatamente a importância do deslocamento de imagens, são os primeiros a realimentarem as múltiplas realidades que uma imagem pode vir a ter.
Para desespero do marketeiros do governador dificilmente essa imagem vai desgrudar de Serra, ainda vai ser muito lembrada e reproduzida, em múltiplas realidades.
Obs.: Infelizmente não consegui os créditos dos outros fotógrafos.
Fernando de Tacca

Um comentário:

Marina disse...

um tiro no próprio pé. essa imagem ficará por muito tempo fortemente ligada ao nosso governador; ressignificada, mas sempre na tentativa de impedir que uma imagem "boa" seja construída depois disso tudo que somente começou.
um tiro no próprio pé.